domingo, 26 de março de 2017


Inimigo das Elites

 

                            Aquela alienação que faz colocar nomes estrangeiros nos objetos – chamando os prédios de La Residènce Victoria, The Four Seasons e outros nomes - e processos brasileiros é anúncio e denúncia de distanciamento, de desconfiança, de separação.

                            Elas não se vêem, não se enxergam, não se identificam como ELITES BRASILEIRAS e sim como elites européias, imitadoras dos americanos, estrangeiras em sua própria terra, incapazes de ter uma língua sua, dependentes no sentir e no pensar, macacas copiadoras da pensimaginação formestrutural dos de fora, incompetentes para serem por si mesmas.

                            Têm vergonha de seu povo, querem ficar longe dele, fazem de tudo para ausentar-se dele e do país o tempo que podem. Não se avistam nas coisas do país, não se organizam para ficar aqui, são estrangeiras mesmo após 500 anos. Então, renunciam à língua, à propriedade de serem por si e para si mesmas, ao convívio com seu povo, até à possibilidade de identidade ou organicidade com ele. São alienígenas em sua própria terra.

                            Seus prédios, os produtos de sua economia, os poucos processos que inventam ou os muitos que copiam, suas crianças, tudo tem nomes dos povelites de fora. Gabriel reportou que a Volkswagen (é alemã, imagine) realizou pesquisa para dar nome a um veículo e entre Tupi e Fox (raposa, em inglês) quase 90 % optaram pelo nome não-nacional.

                            As elites brasileiras vêem o povo brasileiro como inimigo. E de assim imaginarem acabaram por construir a inimizade, com esse superreceio, esse medo pânico de se identificarem com o que julgam atrasado. Acho que é o único caso no mundo (na realidade, não é, muitas elites se envergonham de seus povos e é porisso mesmo que continuam terceiro, quarto e quinto mundos) de elites que não tem povo. Estão tão distantes quanto o povo (pobres e miseráveis), 80 % dos habitantes, ter 20 % da renda, na proporção de 1/16.

                            Por imaginarem um inimigo, comportam-se como inimigas e com isso construíram a inimizade, o desassossego, a angústia de ser brasileiro.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de outubro de 2003.

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