terça-feira, 21 de março de 2017


Como Proceder?

 

                            Como fazer se não temos tempo de construir as coisas que imaginamos? Se temos mais idéias que tempo de trabalho - por mais que nos esforcemos -, como agir? Aprendi que as pessoas a quem a gente entrega os projetos sempre os distorcem, não há como conseguir 100 % do que tínhamos pensado, ou mais.

                            Mas, como proceder se há esse excesso? Devemos deixar morrer o que de um jeito ou de outro poderia melhorar a existência de pelo menos um ou vários? Orgulho é bobeira e não devemos ter, e de qualquer forma o modelo diz que a soma é zero, menos um infinitésimo alimentador, de modo que toda veleidade se esfumaça.

                            Contudo, há essa certeza de ter visto um modo mais fácil, mais barato, melhor, mais harmônico, mais fiel ao compromisso com o maior número de pessoas e tudo aquilo que nos convence de que DEVEMOS mesmo comunicar nossas idéias. Ou poderia ser até constrangedor para aqueles que são simples, modestos, fechados em si.

                            Se tal convicção empurra-nos com uma força irresistível, devemos fazer e fazemos, escrevendo e atribuindo aos demais as tarefas que decorreram de nossos gostos ou adesões. Tomamos as vidas alheias, quando fazemos isso. O que me garante que o uso que desejo fazer dessas vidas é melhor do que deixá-las seguir seu rumo sem atribuir-lhes quaisquer trabalhos? Será que os deuses, para usar das figuras da mitologia, fizeram bem em atribuir (através de um fantoche, Euristeu, sogro de Hércules) os doze trabalhos? No quê Hércules se tornou melhor depois do que era antes? Não teria sido talvez melhor deixá-lo seguir suas vontades?

                            Nada garante, claro, porque não podemos ver a Tela Final, a solução terminal que só o Um enxerga em sua totalidade. Apenas posso rezar e pedir que eu não esteja errando e pecando por orgulho ou excesso de zelo. Tenho de ser cuidadoso à bessa de não ultrapassar o compromisso íntimo de não trilhar o caminho da perversidade ou da maldade, de não ser abusivo ou descuidado, de respeitar as vontades das pessoas.

                            Assim, a gente oferece a julgamento, primeiro à leitura e depois à decisão íntima, o que deve ser profundamente meditado, de fazer ou não fazer.

                            Pois, você sabe, cada vez que escrevo um artigo desses estou comprometendo OUTROS com os meus projetos, meus sonhos. Assim, tudo que peço é que as pessoas não se precipitem, que pensem e investiguem muito antes de decidir dar sequer o primeiro passo.

                            Vitória, segunda-feira, 06 de outubro de 2003.

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