O Que Lao Sabia
No mesmo livro de
Cooper, p. 3, ele cita o poeta
Po Chu-i:
“’Aqueles que falam
nada sabem,
Aqueles que sabem se
calam’.
Estas palavras, ao
que me foi dito,
Foram proferidas por
Lao Tzu.
Mas se devemos
acreditar que Lao Tzu
Era um dos que
sabiam,
Como explicar que
ele tenha escrito um livro
De cinco mil palavras?
”, negrito e colorido meus.
É claro que aí há
uma profunda zombaria de Po Chu-i, porque dez mil é o número chinês para
inteireza, complexidade, completamento, daí ele estar dizendo que Lao Tzu
escreveu um livro FRAGMENTADO, SIMPLÓRIO, INCOMPLETO.
Além disso, há o
sentido mais trivial: se Lao Tzu dizia que os que sabem calam, o livro dele não
pode ser tomado como índice de sabedoria, nem nada lá como apontamento para
ela. Seria só enganação, tapeação, camuflagem. É sabido que os das sociedades
secretas, associações de segredos, falam duas línguas, com duas vozes, uma
interna (esotérica, dos discípulos) e uma externa (exotérica, dos visitantes,
tomados como ignorantes dos conhecimentos mais altos e vedados). Todos procedem
assim mesmo se não o desejam, como mostrou a Rede Cognata.
Entrementes, mesmo
com aquilo que fala abertamente, Lao Tzu ou Tsu já ilustra (e muito) o
universo, ao mencionar o equilíbrio, a disputa dos contrários por dominância e
atenção dos seres. Pitágoras, Cristo, Moisés, todos os iluminados tinham um
conhecimento mais interno, que não partilhavam com as massas, mas nem por isso
deixaram seus ensinamentos exteriores de ter tremenda validade. E Lao sabia que
o conhecimento mais interno não poderia ser imediatamente compreendido, mas que
o conhecimento superficial seria, ainda assim, um índice, um apontamento que
atrairia os menos bobos, entre os quais não se encontrava Po Chu-i.
Vitória, sábado, 31 de maio de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário