domingo, 19 de fevereiro de 2017


A Democracia de Faraday

 

                            Em Conhecer Universal, tomo 9, p. 1.570, há esta passagem: “Numa tentativa de popularizar a ciência, Faraday criou, em 1826, na Royal Institution, as famosas reuniões das sextas-feiras, tornando-as via de comunicação significativa entre cientistas e público”.     

                            Eis o Conhecimento geral no modelo: Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática. Não vejo ninguém realizando conferências para tentar estabelecer uma interface de diálogo com o público FINANCIADOR, aquele que provê por tributos, o povo, ou por doações (em muito menor valor, porém de divulgação incomparavelmente maior), as elites, os recursos de pesquisa & desenvolvimento teórico & prático.

                            Eis porque Faraday (inglês, 1791 a 1867, 76 anos entre datas), cientista e experimentador, deve ser considerado verdadeiro democrata. Filho de um “pobre ferreiro”, se empregou como encadernador aos 13 anos, com isso podendo ler todos os livros que eram impressos pelo patrão. Talvez a proximidade com a pobreza o tenha tornado preocupado com os pobres, em parte, porque muitos que nascem pobres se tornam orgulhosos defensores da burguesia e da riqueza, quer dizer, do separatismo social, a doença da separação das posses.

                            A democracia não é feita só de grandes gestos, de falações extremadas, de discursos pomposos; é feita (ou des-feita) pelos atos de todos e cada um no dia-a-dia, nos acontecimentos diários, em cada gesto e cada palavra, é uma soma de milhões ou uma redução de milhões, diariamente. Eis aí porque Faraday pode ser considerado um verdadeiro democrata e tantos antes e depois dele não, pois não eram, não são e não serão.

                            É assim que nasce e se firma a democracia.

                            E é porisso mesmo que o Conhecimento inteiro é sede de poucos democratas, já que as elites lá presentes são pregadoras e praticantes da antidemocracia, que faz no real o contrário do que advoga no virtual.

                            Eu gostaria de ver milhões de divulgadores, em todos os vértices, mormente na Matemática. Assim se criaria um vínculo entre pesquisadores e os que devem trabalhar para sustentar materialmente o mundo.

                            Vitória, sábado, 24 de maio de 2003.

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