sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


A Pedagogia do Opressor

 

                            Por homologia com Paulo Freire, o célebre educador brasileiro, criador da Pedagogia do Oprimido.

                            É claro que existe uma Pedagogia do Opressor, e de dois modos, ambos a favor, pensando bem, e ambos contra, como deve ser no modelo, a saber: 1) o opressor nos educa; 2) o opressor se educa também. E, é claro, o contrário também ocorre, mas nas fases de descenso, de descida da rampa, de involução.

                            O opressor nos educa na medida em que a opressão nos ensina a nos defendermos continuamente, a criar mecanismos a favor da liberdade. A passagem de Escravismo a Feudalismo, depois a Capitalismo, agoraqui em sua terceira onda, não é senão a contínua invenção da liberdade, da democracia, do livre ir e vir, do respeito às opiniões. Então, todas as opressões ao largo de milênios tiveram essa serventia notável, de construir em nós uma espetacular casca grossa antiopressor. Estamos hoje muito mais preparados contra o conjunto dos opressores do que estávamos antes. Ou você acha que os escravistas e os feudalistas e os capitalistas de primeira e segunda onda não estão aí? Eles só não podem mais ensinar, são professores descartados, aposentados, caducos, obsoletos. Mas, ainda agora, nas propagandas eleitorais de 2002, um certo candidato disse querer construir “prisões marítimas”, ou seja, encher um barco de bandidos e afundá-lo no oceano. Um ex-deputado, agora falecido, Cabo (Dejair) Camata (apelidado em virtude disso de “cabo que mata”) afirmou da tribuna da Assembléia Legislativa ter prendido um meliante a uma árvore e tocado fogo, ou algo assim; e depois foi eleito prefeito de Cariacica, na Grande Vitória.

                            É claro, o opressor se educa também, pois na mente dele ele fica cada vez mais impedido de praticar a opressão ou o mal. E do mesmo modo toda a sua laia miserável. Toda uma classe de opressores escravistas, feudalistas e capitalistas está impedida de proferir seus discursos malsãos. Graças a esse forçamento de barra, a todo o morticínio, todas as torturas, nós nos cansamos deles.

                            Se segue que eles tanto nos educaram quanto foram também educados. E que existe nitidamente uma Pedagogia do Opressor.
                            Vitória, quarta-feira, 28 de agosto de 2002.

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