A Pedagogia do Opressor
Por
homologia com Paulo Freire, o célebre educador brasileiro, criador da Pedagogia
do Oprimido.
É
claro que existe uma Pedagogia do Opressor, e de dois modos, ambos a favor,
pensando bem, e ambos contra, como deve ser no modelo, a saber: 1) o opressor
nos educa; 2) o opressor se educa também. E, é claro, o contrário também
ocorre, mas nas fases de descenso, de descida da rampa, de involução.
O
opressor nos educa na medida em que a opressão nos ensina a nos defendermos
continuamente, a criar mecanismos a favor da liberdade. A passagem de
Escravismo a Feudalismo, depois a Capitalismo, agoraqui em sua terceira onda,
não é senão a contínua invenção da liberdade, da democracia, do livre ir e vir,
do respeito às opiniões. Então, todas as opressões ao largo de milênios tiveram
essa serventia notável, de construir em nós uma espetacular casca grossa antiopressor.
Estamos hoje muito mais preparados contra o conjunto dos opressores do que
estávamos antes. Ou você acha que os escravistas e os feudalistas e os
capitalistas de primeira e segunda onda não estão aí? Eles só não podem mais
ensinar, são professores descartados, aposentados, caducos, obsoletos. Mas,
ainda agora, nas propagandas eleitorais de 2002, um certo candidato disse
querer construir “prisões marítimas”, ou seja, encher um barco de bandidos e
afundá-lo no oceano. Um ex-deputado, agora falecido, Cabo (Dejair) Camata
(apelidado em virtude disso de “cabo que mata”) afirmou da tribuna da
Assembléia Legislativa ter prendido um meliante a uma árvore e tocado fogo, ou
algo assim; e depois foi eleito prefeito de Cariacica, na Grande Vitória.
É
claro, o opressor se educa também, pois na mente dele ele fica cada vez mais
impedido de praticar a opressão ou o mal. E do mesmo modo toda a sua laia
miserável. Toda uma classe de opressores escravistas, feudalistas e
capitalistas está impedida de proferir seus discursos malsãos. Graças a esse
forçamento de barra, a todo o morticínio, todas as torturas, nós nos cansamos
deles.
Se
segue que eles tanto nos educaram quanto foram também educados. E que existe
nitidamente uma Pedagogia do Opressor.
Vitória, quarta-feira, 28 de agosto de
2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário