sexta-feira, 21 de setembro de 2018


Gêniometria

 

No livro de Nigel Warburton, Uma Breve História da Filosofia, RS, L&PM, 2012, na p. 137 e seguintes ele fala no capítulo 24 de John Stuart Mill em Espaço para crescer.

Na página 141 diz: “Os gênios, de acordo com Mill (que era o próprio gênio), precisam ter mais liberdade do que todos nós para se desenvolverem”.

Em primeiro lugar, como saber o que é gênio?

Gênio, como já disse, são aqueles que se opõem, pois necessariamente devem inventar, sempre o novo. Gênios totais são os que se opõem totalmente. Nem todo que se opõe é gênio, mas todo gênio se opõe.

Seria necessária alguma métrica.

Ela seria inventada por gênios ou por não-gênios. Se por estes, como seriam maximamente expressivas? Os gênios e os não-gênios se poriam a discutir isso em bate-bocas horríveis, polêmicas avassaladoras, com muitas ofensas.

Como garantir que não houvesse restrição política, devida em grande parte à letalidade dos gênios às coisas erradas? Se houvesse, seria favorável só ao conjunto onde se insere o político ou seria generalista?

E assim por diante, as discussões nunca terminariam.

Os gênios, com mais coisas para fazer e resolver, rapidamente se afastariam e a métrica, cujo delineamento caberia aos não-gênios, não receberia a adesão deles PORQUE julgada inferior. Além de tudo os gênios são desconfiados por natureza e não-submissos (é só porisso que conseguem enfrentar a coletividade, interessada na manutenção do status-quo ante).

Depois, quem disse que os gênios devem ter mais espaço?

Se lhes for dado, esse excesso pode torná-los desmazelados, insolentes, arrogantes. Melhor que não, pois os gênios provam sua genialidade justamente se opondo às oposições. E, se lhes for dado, quem garante que se interessarão pela solução dos problemas?

Talvez seja justamente o contrário, quem sabe é o caso de restringir para forçá-los a se manifestarem?

Enfim, como decidir qualquer coisa quanto aos gênios?

Mais, definir quem são eles pode se tornar extremamente favorável às forças anti-conjunto (por exemplo, apontar os gênios brasileiros poderia fazer as nações estrangeiras atacá-los preferencialmente em caso de conflito). As famílias podem se sentir prestigiadíssimas, exigindo reportes extraordinários da coletividade e as pessoas em volta podem se dobrar em adulação indevida.

E assim por diante.

Enfim, Mill estava errado. Exceto se pensarmos que os gênios fabricam sua própria liberdade (é isso que significa toda genialidade: as demais pessoas vivem dessa invenção).

Serra, sexta-feira, 28 de setembro de 2012.

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