Gêniometria
No livro de Nigel
Warburton, Uma Breve História da Filosofia, RS, L&PM, 2012, na p. 137 e
seguintes ele fala no capítulo 24 de John Stuart Mill em Espaço para crescer.
Na página 141 diz:
“Os gênios, de acordo com Mill (que era o próprio gênio), precisam ter mais
liberdade do que todos nós para se desenvolverem”.
Em primeiro lugar,
como saber o que é gênio?
Gênio, como já disse,
são aqueles que se opõem, pois necessariamente devem inventar, sempre o novo.
Gênios totais são os que se opõem totalmente. Nem todo que se opõe é gênio, mas
todo gênio se opõe.
Seria necessária
alguma métrica.
Ela seria inventada
por gênios ou por não-gênios. Se por estes, como seriam maximamente
expressivas? Os gênios e os não-gênios se poriam a discutir isso em bate-bocas
horríveis, polêmicas avassaladoras, com muitas ofensas.
Como garantir que não
houvesse restrição política, devida em grande parte à letalidade dos gênios às
coisas erradas? Se houvesse, seria favorável só ao conjunto onde se insere o
político ou seria generalista?
E assim por diante,
as discussões nunca terminariam.
Os gênios, com mais
coisas para fazer e resolver, rapidamente se afastariam e a métrica, cujo
delineamento caberia aos não-gênios, não receberia a adesão deles PORQUE
julgada inferior. Além de tudo os gênios são desconfiados por natureza e
não-submissos (é só porisso que conseguem enfrentar a coletividade, interessada
na manutenção do status-quo ante).
Depois, quem disse
que os gênios devem ter mais espaço?
Se lhes for dado,
esse excesso pode torná-los desmazelados, insolentes, arrogantes. Melhor que
não, pois os gênios provam sua genialidade justamente se opondo às oposições.
E, se lhes for dado, quem garante que se interessarão pela solução dos
problemas?
Talvez seja
justamente o contrário, quem sabe é o caso de restringir para forçá-los a se
manifestarem?
Enfim, como decidir
qualquer coisa quanto aos gênios?
Mais, definir quem
são eles pode se tornar extremamente favorável às forças anti-conjunto (por
exemplo, apontar os gênios brasileiros poderia fazer as nações estrangeiras
atacá-los preferencialmente em caso de conflito). As famílias podem se sentir
prestigiadíssimas, exigindo reportes extraordinários da coletividade e as
pessoas em volta podem se dobrar em adulação indevida.
E assim por diante.
Enfim, Mill estava
errado. Exceto se pensarmos que os gênios fabricam sua própria liberdade (é
isso que significa toda genialidade: as demais pessoas vivem dessa invenção).
Serra, sexta-feira,
28 de setembro de 2012.
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