Pequeno no Pequeno
Tendo chegado a Linhares com nove anos em
1963 deparei com um mundo completamente novo, como já relatei várias vezes: um
mundo amazônico com muitos rios e lagos, inclusive com área pantanosa, a
Suruaca, depois seca a pulso.
LINHARES, A AMAZÔNIA
NO ESPÍRITO SANTO
(das setenta lagoas do ES umas 50 ficam em Linhares)
![]() |
O Rio Doce, com quase 1.000 km, passa lá.
DOCE MUITO DOCE (nós íamos com tios
“batear”, passar a peneira nas margens do rio para pegar camarões, arrancando a
cabeça e comendo-os crus com cachaça) – a ponte tem 670 metros de comprimento,
a maior do ES.
![]() |
Foi uma vida muito feliz até 1971, quando vim
para Vitória tentar o cursinho no Colégio Salesiano. Então, durou oito anos
entre datas, de agosto de 1963 a fevereiro de 1971.
Em Linhares, naquela época ainda com fartas
florestas, a temperatura nunca subia além de 35⁰ ou descia abaixo de 15⁰ C, e
ventava, ventava muito, além de chover à beça, como na Amazônia hoje. O sol
queimava, mas brandamente, não era calor tórrido, causticante, abrasador,
molesto. Meu irmão mais velho - sendo de 1943, 11 anos antes de mim - já tinha
chegado aos 20 quando eu tinha nove e quando cheguei aos 17 em 1971 ele atingiu
27 para 28 anos, já estando casado desde os 25, creio, pelo que a faixa de que
falo deve ter ido de 1963 a 1968, dentro daqueles 23 anos que foram do final da
guerra em 1945 a 1968, os 23 anos mais felizes da humanidade.
Empregado como contador na concessionária da
Mercedes Benz dos Sponfeldner ele saía às 17 e ia para a casa de mamãe e papai,
que ainda está lá na Av. Governador Santos Neves, 1257, Centro; me pegava para
carregar as varas de pescar e íamos de bicicleta, eu na garupa, até o rio
Pequeno, como é chamado o rio São José por lá.
O RIO BEM PEQUENO (ele vai somente da
boca da lagoa Juparanã até o rio Doce, onde deságua; nas épocas de cheia do
Doce reflui e sobe em vez de descer, deixando a lagoa barrenta, pois a
declividade é bem pequena e ele é bem manso) – é essa coisa bem miúda entre a
lagoa acima e o rio Doce abaixo (em linha reta tem somente 6 km, embora serpenteando
possa ter o dobro disso; bordeia à direita o baixio que outrora deve ter ligado
lagoa e rio, havendo um paredão que dá para ele nos limites da cidade.
![]() |
Descíamos por uma estradinha na olaria de lá
e íamos às beiradas do rio, eu de ajudante, sem piar; ficávamos ali jogando as
varas e ele pescando alguma coisa, porque eu sempre fui ruim nisso. A família
era pobre e acho que ele fazia para ajudar – todo mundo contribuía como podia.
NALGUM CANTO AÍ (ficávamos na
barranqueira, o calor tépido e a pasmaceira geral) – a cidade, claro, era muito
menos desenvolvida que agora e teria menos de ¼ dos habitantes de hoje.
![]() |
Ah, Que tempos! Naturalmente grande parte das
pessoas das cidades pequenas fez algo semelhante, não há nada de especial em
minha vida, só a felicidade, que foi muita quando era preciso que fosse, ainda
que na pobreza.
É de contar essas coisas vividas que
precisamos e não de filmes violentos e torpes, focados grandemente nas
indecências malucas. Há milhões de chances de contar as vidas de outro tanto de
pessoas através do mundo, como em O
Menino do Kampung. Precisamos de finura, de dignidade, de inocência que dê
o quadro de beleza. A vida não é feita de tiroteios apenas; não é coalhada de assaltos
cariocas nas cidades do demônio.
Havia grandeza na simplicidade.
Vitória, quinta-feira, 05 de abril de 2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário