quinta-feira, 19 de julho de 2018


O Que Eles Chamaram de Minhas Doideiras

 

Lá no meu serviço desde 1984 - ao longo dos 23 anos no Fisco - cuidaram de espalhar a fama de eu ser “louco”, “maluco”, e por outros tantos anos isso me incomodou. Por quê eu seria maluco? Então fui investigar e concluí que durante esse mesmo tempo fiz enfrentamento de quase todos os chefes em nome da liberdade, tanto minha quanto dos outros.

Houve um fiscal que no dizer do povo “tacou fogo” num posto fiscal de madeira dos muitos existentes em Linhares. Outro, tendo pedido ao motorista para parar e ele não o fazendo atirou no pneu do carro. Mais um levava a arma e ficava atirando nos morros lá em Santa Cruz. Um, que morreu, levava potes e potes de água mineral para tomar banho com ela e não usava garfo, só colher, pois dizia haver germes entre os dentes daquele utensílio, além de levar sua alimentação lacrada em isopor e em plástico. Muitos portavam armas, até três; B, que ameaçou me matar, quando brigamos levou três. Um socou a cara de um chefe de fiscalização porque este bateu no carro do filho dele. Os chefes vivem colocando a torto e a direito os fiscais na corregedoria, tendo ou não motivo. Um fazia sexo com uma colega dentro do salão do posto e aquele mesmo B expunha o pênis no mesmo posto lá em Pedro Canário. Um dos que me chamou de maluco é o WV pego com José Ignácio Ferreira nas maracutaias durante o governo deste. Esse WV junto com outros tinha um escritório para representar os cafeicultores nas bandidagens, sem falar dos inúmeros que enriqueceram com tramóias. Um ficava soltando bombinhas “cabeça de nego” em Pequiá perto dos alojamentos onde dormíamos, por apelido “pudim de cachaça”. E assim discorreríamos horas e horas contando os casos dos mais estranhos se retiníssemos boa parte dos fiscais num lugar, aquela parte que conhece mais a fundo nosso meio.

Nunca fiz nada disso.

Como já falei tantas vezes, não bato em mulheres e crianças, não jogo (exceto na loteria muito esporadicamente, para ver se ajudo meus filhos), não participo de falcatruas, não sonego o IR, não paro em fila dupla, não depredo telefone (embora já tenha ficado irado e batido com os públicos no gancho, especialmente quando engoliam fichas), não destruo propriedade pública ou privada e assim por diante.

Então, por quê tenho fama de doido?

Raciocinei poder advir a fama de eu ter enfrentado as chefias, o que a maioria raramente ou nunca faz, devendo, portanto, a liberdade aos que o fazem. Dos secretários para baixo enfrentei todo tipo de gente. Não que eu seja especialmente corajoso, de jeito nenhum, é apenas a ira e a revolta contra os desmandos. Eles chamam de doideira minha audácia, minha ousadia irrefletida, meus impulsos contra os ditadores e a tirania.

E isso é motivo para pensarmos que a verdadeira doideira corre solta por aí nas classes e categorias sem que ninguém tenha investigado e contado; que, por outro lado, os supostos malucos são os que enfrentam; e ainda, que as pessoas não são muito boas em indicar os acontecimentos, pois lhes falta a capacidade de pensar e identificar com precisão.

Vitória, quinta-feira, 29 de março de 2007.

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