domingo, 8 de julho de 2018


A Baixa Cristianização Legada por Espanha e Portugal

 

No já citado livro de Femenick, página 44, ele diz:

“Espanha e Portugal, embora detentores das colônias e do comércio, não foram os países mais beneficiados pelos descobrimentos. A incapacidade de suas burguesias em ultrapassarem a fase mercantil e chegar à industrialização somente se explica pela facilidade com que obtinham ouro e prata em suas operações de descoberta e saque. É bem mais fácil e cômodo descobrir ou se apossar de riquezas do que de produzi-las. Talvez por seus dirigentes terem pensado assim, Portugal e Espanha permaneceram como, ‘depois da Polônia, os dois países mais miseráveis da Europa’.

“Os metais preciosos retirados da América tinham na Península Ibérica não o seu ponto de destino final mas um entreposto para redistribuição na Europa. O ouro e a prata da América simplesmente passavam por Portugal e Espanha pois, tão logo chegavam nesses países, eram remetidos para outras nações européias, em troca de mercadorias manufaturadas e não produzidas na península ibérica”.

Já escrevi sobre isso, bem como outros antes de mim, talvez.

Podemos ir mais fundo na análise.

Ouro, prata, platina e pedras “preciosas” tem sentido de duração além da vida humana: em tese durariam “para sempre”. A burguesia – como antes os nobres na Idade Média e os patrícios na Antiguidade – aprecia isso, depende disso; as burguesinhas querem diamantes e ouro. Para esposas e filhas, quando não para filhos e para si mesmos os burgueses ambicionavam o ouro e faziam “seus” operários trabalharem 16 horas por dia para produzir os objetos desejados pelos detentores, Portugal e Espanha, que por sua vez faziam “seus” operários virem de navio atacar as Américas, aprisionando índios e negros, escravizando-os, fazendo-os morrer nas minas para escavar o que era “de graça”. Por uma ilusão - no conjunto o ouro e as pedras - os burgueses da Inglaterra e da França, bem como de outros países sem possessões, estimularam a produção real e o desenvolvimento de sua sócioeconomia PRODUTIVORGANIZATIVA, embasando sua coletividade de produçãorganização. Piratas os portugueses e piratas os espanhóis tanto quanto foram piratas ingleses e piratas os franceses. Todos piratas, todos sujos quando assim entenderam; depois, todos puros como as prostitutas arrependidas.

A diferença é que os piratas ingleses e os piratas franceses e outros piratas europeus não podendo viver de ilusões e do trabalho alheio foram obrigados a inventar e com isso distribuir em certa medida para o “lado de baixo” as benesses do desenvolvimento. No caso dos ibéricos não passava “de cima para baixo”, só “de baixo para cima”, do povo para as elites como trabalho forçado: eis aí a questão da baixa cristianização, pois a mensagem de Cristo não passou inteira, fragmentou-se nos superinteresses das elites ibéricas, o que foi passado às colônias e depois às elites endógenas ibero-americanas independentes, entre as quais as do Brasil. Não vem dos negros essa preguiça congênita daqui, vem dos ibéricos oportunistas.

Vitória, sábado, 24 de fevereiro de 2007.

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