Quanto
Custa Ler?
Já abordei a
dificuldade de olhar e de ler, é complicadíssimo.
Há outra dimensão
do ler que também é relevante.
Compro um livro
por 50 reais, 1/20 do salário mínimo, o povo não pode gastar com isso (essa é
uma das razões adicionais de os revolucionários saírem das elites ociosas): se
ficar só em um por mês, não passará de diversão, a menos que você seja um
filósofo e possa aprofundar sem muitas leituras, ou um matemático, que só
precisa de caneta e papel (se for o indiano Ramanujan 1887-1920, nem de livros
precisa, ele começou do zero mesmo).
Se for uma pessoa
comum, ler só um por mês é diversão.
Não estamos
olhando o custo inavaliável de confecção de um livro (o que fiz de passagem num
texto sobre editoria, criação e todo o resto). Para as elites, 50 reais é
baratinho, é ¼ de uma conta modesta de bar.
Para além do
preço dessa unidade, há o custo da hora de quem lê. Por exemplo, ganho 14,5 mil
reais líquidos, vezes 13,33 (quando estava na ativa, incorpora férias, 13º e
1/3 de férias) dá pouco mais de 193 mil por ano (digamos 200 mil, para dar
contas com zeros); como o regime era de oito horas por dia durante 11 meses de
4,4 semanas/mês (40 horas/semana = 8 horas/dia x 5 dias) o total esperado de
mim era de perto de duas mil horas/ano, o que mostra valor hora/homem de (200
mil/2 mil =) 100 reais/hora.
Se emprego 10
horas para ler um livro, isso dá mil reais, acrescidos a 50 reais do custo do
exemplar.
Vamos ficar em
mil reais.
Não emprego apenas
50 reais, são 20 vezes isso, tem de ser compensatório, a leitura é muito cara,
tanto para amadores quanto para profissionais (os professores universitários e
outros). LER tem custo social e individual altíssimo, porque é preciso levar em
conta também a formação do sujeito ao fim de 10, 20, 30, 40 anos de
aprendizado; e dicionários e outros apoios, inclusive hardware, software, banda
larga, etc.
Enfim, é
caríssimo.
Ninguém fez
avaliação desse tipo por classe do TER, por formação educacional, por profissão
e assim por diante. Acho que muitas surpresas vão despontar, no sentido de que
tudo nosso é subsidiado de dentro para fora (pessoal para ambiental) e de fora
para dentro. O nome disso é coletividade, a gente nem percebe quanto de
gratuito existe em tudo que “pagamos”.
Vitória, quarta-feira,
23 de maio de 2018.
GAVA.
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