quarta-feira, 23 de maio de 2018


Quanto Custa Ler?

 

Já abordei a dificuldade de olhar e de ler, é complicadíssimo.

Há outra dimensão do ler que também é relevante.

Compro um livro por 50 reais, 1/20 do salário mínimo, o povo não pode gastar com isso (essa é uma das razões adicionais de os revolucionários saírem das elites ociosas): se ficar só em um por mês, não passará de diversão, a menos que você seja um filósofo e possa aprofundar sem muitas leituras, ou um matemático, que só precisa de caneta e papel (se for o indiano Ramanujan 1887-1920, nem de livros precisa, ele começou do zero mesmo).

Se for uma pessoa comum, ler só um por mês é diversão.

Não estamos olhando o custo inavaliável de confecção de um livro (o que fiz de passagem num texto sobre editoria, criação e todo o resto). Para as elites, 50 reais é baratinho, é ¼ de uma conta modesta de bar.

Para além do preço dessa unidade, há o custo da hora de quem lê. Por exemplo, ganho 14,5 mil reais líquidos, vezes 13,33 (quando estava na ativa, incorpora férias, 13º e 1/3 de férias) dá pouco mais de 193 mil por ano (digamos 200 mil, para dar contas com zeros); como o regime era de oito horas por dia durante 11 meses de 4,4 semanas/mês (40 horas/semana = 8 horas/dia x 5 dias) o total esperado de mim era de perto de duas mil horas/ano, o que mostra valor hora/homem de (200 mil/2 mil =) 100 reais/hora.

Se emprego 10 horas para ler um livro, isso dá mil reais, acrescidos a 50 reais do custo do exemplar.

Vamos ficar em mil reais.

Não emprego apenas 50 reais, são 20 vezes isso, tem de ser compensatório, a leitura é muito cara, tanto para amadores quanto para profissionais (os professores universitários e outros). LER tem custo social e individual altíssimo, porque é preciso levar em conta também a formação do sujeito ao fim de 10, 20, 30, 40 anos de aprendizado; e dicionários e outros apoios, inclusive hardware, software, banda larga, etc.

Enfim, é caríssimo.

Ninguém fez avaliação desse tipo por classe do TER, por formação educacional, por profissão e assim por diante. Acho que muitas surpresas vão despontar, no sentido de que tudo nosso é subsidiado de dentro para fora (pessoal para ambiental) e de fora para dentro. O nome disso é coletividade, a gente nem percebe quanto de gratuito existe em tudo que “pagamos”.

Vitória, quarta-feira, 23 de maio de 2018.

GAVA.

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