sábado, 9 de setembro de 2017


A Resposta Quase Completa de Al-Kindi e o Desvio de Ibn Sina

 

                            No livro de Abrão e Coscodai, História da Filosofia, São Paulo, Best Seller, 2002, p. 111, elas dizem:

                            “Al-Kindi (século IX) é o primeiro a formular esse problema: como o intelecto humano pode apreender a essência das coisas, se pelos sentidos só é possível conhecer que elas existem? A solução encontra-se na Inteligência, sempre em ato que transcenda o intelecto humano e que tenha o conhecimento das essências. É ela que torna possível o conhecimento, fornecendo ao intelecto humano as essências (ou formas) e fazendo-o passar da potência ao ato”.

                            Ou seja, como é que as potências (“a essência das coisas”) em poder do UM revelam-se aos racionais (“se pelos sentidos”), que são incompletos diante do não-finito? Pois, sabidamente, eles jamais podem alcançar a solução completa. Os racionais sabem que as coisas existem, mas a solução integral está fora da órbita da existência, pertence ao reino da essência. Ora, a solução completa é que as coisas comportam dupla-existência ou dupla-essência, elas são, nos termos do modelo, essênciexistências, quer dizer, elas ESSENCIALMENTE-EXISTEM. Existir já é existir-em-essência, tendo essa co-ligação de direção única com os dois sentidos dos pares polares opostos/complementares.

                            O prego que existe já é o mesmo prego essencial do Desenho do Mundo, como digo, ou do Plano da Criação, como dizem os religiosos. O conjunto de todas as essências é o mesmo SUPERCONJUNTO PROJETADO da essência única. De cada ponto-essência nasce um cone de existências em todas as alturas, larguras e profundidades dos mundos possíveis, isto é, dos mundos que forem mesmo existir.

                            Diz Al-Kindi [801-873, primeiro grande filósofo islâmico (ver Islã). Estudioso da filosofia grega, traduziu para o árabe as obras de Aristóteles. Através de seu pensamento, influenciado pelo neoplatonismo e pelo aristotelismo medieval, Al-Kindi tentou dotar de fundamento filosófico a escola teológica dos mutazilitas, palavra que significa dissidente e denominava uma seita que pregava o livre arbítrio e uma interpretação racionalista dos textos religiosos. Os mutazilitas recusavam idéias radicais sobre fé e fidelidade. Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados]: a Inteligência (em maiúsculas o conjunto das inteligências operantes) é que traz em si o poder de des-cobrir as essências a partir da existência, pois a Inteligência é parente-descendente do UM, o Uno de Plotino. Na Bíblia o ser humano (Adão) é filho de Deus. Al-Kindi foi em cheio e viu a solução.

                            Elas dizem à página 112:

                            “No campo filosófico, Avicena, como Al-Farabi, concebe uma série hierarquizada de Inteligências agentes, das quais a última dá a forma à matéria, fazendo com que as coisas sejam o que são, e ao intelecto humano, tornando possível o conhecimento. Também concorda com Al-Farabi quando à distinção entre a essência e a existência, mas acrescenta a essa questão algumas precisões”.

                            Para começar é essa hierarquia que permite a existência dos padres, dos sacerdotes, dos pastores, mas Avicena (Ibn-Sina) [980-1037, filósofo e médico nascido na Pérsia, responsável pela sistematização da filosofia islâmica. Seu nome é Abu Ali al-Usain Abdala Ibn Sina, latinizado para Avicena. Considerado um dos maiores filósofos islâmicos (ver Islã), escreveu sobre medicina, metafísica, lógica, astronomia, matemática, retórica e música. Médico famoso, serviu a diversos sultões. Seu Cânon de Medicina, traduzido para o latim (ver Língua latina) no século XII, foi a principal fonte de referência da medicina medieval. As observações que fez sobre a evolução e o tratamento da varíola foram praticadas até o século XVIII. Estudioso de Aristóteles, Avicena, porém, não criou teorias próprias baseadas no pensamento do filósofo grego. Influenciado pelo neo-platonismo (ver Platão), tentou construir uma teosofia mística que pudesse servir de sustento ao islamismo. Sua obra mais conhecida, Quita ash-Shifa (O livro da cura), é um compêndio de tratados sobre os mais variados assuntos, da lógica, metafísica e antropologia aristotélica às ciências naturais. O pensamento de Avicena é considerado um dos precursores do Renascimento], sendo uma estação repetidora de Al-Farabi (873? -950, filósofo islâmico. Foi um dos primeiros difusores das doutrinas de Platão e Aristóteles no mundo árabe e um admirador do neoplatonismo de Plotino. Exerceu grande influência sobre Avicena e Averroés. Partindo da supremacia da verdade filosófica sobre a verdade revelada, Al-Farabi formulou uma religião universal em relação a qual todas as outras seriam meras expressões simbólicas), vai aquém, ele regride.

                            AL-KINDI                        plotiniano                      801-873

                            AL-FARABI                    aristotélico                    ?873-950

                            IBN-SINA                        aristotélico                    980-1037

                            Foi uma regressão da solução anterior. Avicena repetiu Al-Farabi, que foi regressão em relação a Al-Kindi, todos eles copiando os gregos (sem dar crédito).

                            Onde, de outro modo, Al-Kindi tinha coligado essência e existência via Inteligência Al-Farabi e Avicena recuaram para as posições separatistas (que depois Descartes - 1596-1650 - re-esposou, separando corpo material e espírito ideal, com grande dano geral ainda não reparado de todo fora do modelo-pirâmide) e distinguem as duas.

                            Portanto, Avicena começou o desvio que levou ao cartesianismo e toda doença moderna e contemporânea.
                            Vitória, segunda-feira, 04 de abril de 2005.

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