segunda-feira, 21 de agosto de 2017


Linha, Mínima Possibilidade do Plano

 

                            Quando a gente olha a estrada como serviço que está sendo prestado (o Estado interfere nas posses daquelas propriedades por onde passa para liberar para cada um e todos a passagem NAQUELA LINHA) esquece que a reta é o plano em estado mínimo e que num plano matemático existem infinitas retas. A reta é a maior das contrações do plano, o ponto o maior encolhimento da reta. Evidentemente uma estrada é muito boa, sem dúvida alguma; pense só como era antigamente, quando não se podia viajar ou os passantes tinham de parar a cada instante para pagar pedágio, sem falar que as estradas eram precárias e curtinhas, fora as dos romanos, que porisso mesmo ficaram famosas.

                            Mas a estrada é APENAS UMA de todas que poderiam existir. E poderiam existir milhares. Vemos nela uma escolha. Desse modo, o turismo é escolha CONVENCIONAL, de conjunto, de média – é sempre ortodoxia e superortodoxia, é caminho supervisado e superpisado, é vontade padronizada, é negação das vontades divergentes. O turismo é acomodação, é a linha levada ao extremo da arrumação. É o prazer de antigamente tornado trivial, exatamente porque se fixa nessas linhas preferenciais, primazia de alguém.

                            O que há no espaço de mais extremo é que ele tem muitos planos, infinitas visões, que são negadas na medida em que se fica somente em um dos possíveis planos. O que estou dizendo, é claro, é uma sugestão de se sair do ponto para ir à reta, sair de si para seguir linha; de sair da linha algumas vezes para viver o plano em suas tão maiores chances; de não ter planos para poder absorver todas as promessas do espaço.

                            Há tanto mais além dos caminhos trilhados! Eu mesmo quase não saio, mas é porque há tanto a fazer e tão pouco tempo; sendo assim, não gosto muito de viajar, porque isso significaria ter de deixar os livros e a máquina de escrever, antes, e agora o computador. Para todos os que não estão nessa condição é bom temperar o ortodoxo da linha com o heterodoxo da aventura no plano.

                            Vitória, terça-feira, 04 de janeiro de 2005.

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