segunda-feira, 24 de julho de 2017


Os Enganos que Marcam Nossas Vidas

 

                            Quando estávamos em torno dos 20 anos, ainda na universidade, fomos ao então recém-inaugurado Di Dom-Dom, bar do afamado Triângulo das Bermudas, na Praia do Canto, próximo do Sizino, que freqüentávamos muito; estávamos entrando e numa mesa um grupo de rapazes e moças ria desbragadamente, gargalhava estridentemente, eu achei ruim aquilo e o agora professor-doutor GHB reclamou que eu estava incomodado com a felicidade alheia.

                            De modo algum, pelo contrário, fico absolutamente feliz quando os outros estão bem, principalmente quando expressam isso com risos e brincadeiras. É que tenho um problema de audição que vem da infância, pois quando tinha uns seis ou sete anos em Cachoeiro de Itapemirim, morando no bairro Morro Santo Antônio passei por uma doença do ouvido em que ouvia tudo multiplicado por dez, o que é apenas um modo de dizer; em todo caso era muito alto, altíssimo, eu não conseguia ficar quieto, doía. Havia uma serraria do lado esquerdo da casa (ela ficava à esquerda de quem subia; agora é uma residência), quem vê de frente, cujo som normalmente eu nem notava, pois era criança tão afoita quanto qualquer outra. Mas naqueles dias foi como se ela martelasse diretamente dentro da minha cabeça e eu pulava na cama. Assim, por toda a vida os barulhos muito altos, por qualquer motivo, interferem com a minha existência, me desequilibram. Eu teria podido explicar isso, mas não tive chance, nem nosso amigo saberia; a tendência dele seria mesmo achar que era o fato de rirem que me incomodava. Não era, era o som excessivamente alto.

                            Porisso eu peço às pessoas que tenham paciência e procurem indagar, porque, vejam, já se passaram 30 anos desse episódio e ele não saiu da minha cabeça. E assim será com tantas pessoas em tão diversas situações, por vezes deixando rastros (não foi o meu caso) de rancor. Tantas e tantas vezes as pessoas poderiam não se afastar, apenas com base no diálogo.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de setembro de 2004.

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