Os Enganos que Marcam
Nossas Vidas
Quando estávamos em
torno dos 20 anos, ainda na universidade, fomos ao então recém-inaugurado Di
Dom-Dom, bar do afamado Triângulo das Bermudas, na Praia do Canto, próximo do
Sizino, que freqüentávamos muito; estávamos entrando e numa mesa um grupo de
rapazes e moças ria desbragadamente, gargalhava estridentemente, eu achei ruim
aquilo e o agora professor-doutor GHB reclamou que eu estava incomodado com a
felicidade alheia.
De modo algum, pelo
contrário, fico absolutamente feliz quando os outros estão bem, principalmente
quando expressam isso com risos e brincadeiras. É que tenho um problema de
audição que vem da infância, pois quando tinha uns seis ou sete anos em
Cachoeiro de Itapemirim, morando no bairro Morro Santo Antônio passei por uma
doença do ouvido em que ouvia tudo multiplicado por dez, o que é apenas um modo
de dizer; em todo caso era muito alto, altíssimo, eu não conseguia ficar
quieto, doía. Havia uma serraria do lado esquerdo da casa (ela ficava à esquerda
de quem subia; agora é uma residência), quem vê de frente, cujo som normalmente
eu nem notava, pois era criança tão afoita quanto qualquer outra. Mas naqueles
dias foi como se ela martelasse diretamente dentro da minha cabeça e eu pulava
na cama. Assim, por toda a vida os barulhos muito altos, por qualquer motivo,
interferem com a minha existência, me desequilibram. Eu teria podido explicar
isso, mas não tive chance, nem nosso amigo saberia; a tendência dele seria
mesmo achar que era o fato de rirem que me incomodava. Não era, era o som
excessivamente alto.
Porisso eu peço às
pessoas que tenham paciência e procurem indagar, porque, vejam, já se passaram
30 anos desse episódio e ele não saiu da minha cabeça. E assim será com tantas
pessoas em tão diversas situações, por vezes deixando rastros (não foi o meu
caso) de rancor. Tantas e tantas vezes as pessoas poderiam não se afastar,
apenas com base no diálogo.
Vitória,
sexta-feira, 17 de setembro de 2004.
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