segunda-feira, 24 de julho de 2017


Dicionarienciclopédico de Música Sertaneja

 

                            A música do Sertão, aquela do grande interior do Brasil, especialmente o interior de São Paulo, de Minas Gerais, de Goiás, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, do Nordeste e todo grande sertão. Desenvolveu-se nas fazendas, a partir das chamadas “modas de viola”, quando os vaqueiros sentavam para “prosear”, conversando e tocando violão em volta de qualquer churrasco. É toda uma história bastante cativante, o equivalente em nosso país da música country americana e do farwest (oeste distante, o que aqui também foi), ou seja, das fronteiras tão temidas e decantadas em verso e prosa, como dizem.

                            É duplamente música de resistência, só por ser não-citadina: 1) de fora das cidades; 2) de oposição a elas, pois contempla um modo de vida que a urbe não deve substituir. Fala do modo característico matuto e compõe melodicamente em modelo próprio. Com o êxodo rural foi saindo do campo e entrando nas cidades. Por acidente, sendo São Paulo e Minas Gerais dois dos maiores estados e os do oeste celeiros agropecuários essa dominância cultural no Brasil de certo modo impôs a música a toda a nação, que a ouve e toca em toda parte. Vendeu centenas de milhares de discos long play nas décadas dos 1940, 1950, 1960 e 1970 com as velhas duplas caipiras, antes de a grande indústria fonográfica se interessar pelo fenômeno e investir nas duplas fabricadas atuais, que ganham milhões.

                            Não há nada de semelhante no mundo, é autenticamente brasileiro, um dos apontamentos da brasilidade resistente. Porisso penso que deveriam fazer um dicionário-enciclopédia da música sertaneja brasileira, mostrando no dicionário as palavras que são preferencialmente usadas, as rimas e tanta coisa mais e na enciclopédia as figuras dos compositores, dos cantores, dos tocadores, dos lugares referidos, localização das cidades onde nasceram os ídolos, o que fizeram em vida, as gravadoras e assim por diante. Dará um belo livro-resgate, recuperando para a maioridade esse hiperfenômeno (que vai além do fenômeno, dado que estruturalmente incorporado à definição da alma brasileira) nacional.

                            Pode ser lançado numa grande festa, com a presença dos venerandos cantores antigos ainda vivos e dos novos que queiram ir. Um enorme panorama da evolução do Brasil.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de setembro de 2004.

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