quarta-feira, 21 de junho de 2017


Mecânica GH e a História do Povo

 

                            Como vimos em Mecânica GH, neste Livro 81, a história é sempre sobre o passado e a geografia sempre sobre o presente. Como Gabriel perguntou, respondi que a história (o que já havia dito antes de outro modo) é o que explica a passassem entre os sucessivos planos G (i) (geográficos-i, i de 1 a n), MAS SEMPRE DO PASSADO, quer dizer, de quando as elites eram hegemônicas. A história explica como se passa de G1 a G2 e a Gn, desde o primeiro plano geográfico até o hoje; a geografia explica no hoje como as consciências montam as mentiras históricas como favor de classe. Elas, as elites não se tornaram ainda plenamente dominantes no presente, que é área de memórias instáveis, que estão sendo feitas pelas inteligências. E o povo só tem memória, que é a inteligência curtinha – O POVO EXISTE SOBRE O PRESENTE, linha finíssima em que ainda não se deu dominância.

                            DEFINIÇÃO DE HEGEMONIA (no Houaiss digital)

Substantivo feminino. 1, supremacia ou superioridade (cultural, econômica ou militar) de um povo ou cidade-estado nas federações da Grécia antiga. Ex.: h. de Atenas. 2, Derivação: por extensão de sentido. Supremacia, influência preponderante (exercida por cidade, povo, país etc.) Ex.: a h. que a União Soviética exerceu sobre os demais países socialistas. 3, Derivação: por extensão de sentido. Autoridade soberana; liderança, predominância ou superioridade. Ex.: a h. dos negros na evolução do jazz. 4, Rubrica: política, sociologia. Na tradição marxista, liderança política calcada no consentimento e não na violência, esp. aquela que, na luta de classes, o proletariado industrial exerce sobre o campesinato e sobre outros grupos submetidos da sociedade. 5, Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: política, sociologia. Em Gramsci (1891-1937), forma de exercício do poder, comum às sociedades modernas e a um projeto de construção gradativa do comunismo, em que instrumentos, como a geração de consenso, alianças e convencimento no âmbito cultural, são priorizados em detrimento da violência.

                            Quer dizer, no presente ainda há tensões - intensos debates sobre domínio ou supremacia ou superioridade - não resolvidas. No presente o povo ainda pode mudar a história, no passado não mais. Ou, dizendo de outro modo, NO PLANO GEOGRÁFICO ou presente é que se trava a guerra de classes, entre a classe dominante e a classe dominada, agora entre o poder das burguesias e o querer dos povos. No agora, no aqui, no agoraqui é que se travam ou se trabalham as batalhas da guerra geral. No passado todas as tensões FORAM INTERPRETADAS, reduzidas, apequenadas, circunscritas pelo poder burguês. Como as burguesias são dominantes, a História geral que sobreviveu é a do seu domínio e a do domínio de suas verdades, tornadas incontestáveis; de sua visão-de-mundo, de sua percepção-de-mundo, de seu desejo-de-mundo, de seu Conhecimento (história das SUAS magias/artes, passado de SUAS teologias/religiões, antigas-geografias de SUAS filosofias/ideologias, recontagem das SUAS ciências/técnicas). Ou seja, a ciência que existe é a ciência dominante da burguesia, a que lhe interessa (por exemplo, não lhe interessa uma CIÊNCIA DA LIBERTAÇÃO, assim como também não a pedagogia da libertação de Paulo Freire – o único dos desterrados que ainda não voltou, mesmo morto). Só interessa contar a história da ciência-dominante, a ciência das burguesias, aquelas autorizadas por elas.

                            E por que a Geografia geral não é favorecida?

                            É porque ela é a HISTÓRIA DO POVO, devendo idealmente constituir a investigação DE SUA DOMINAÇÃO PRESENTE. Ela poderia ser contestada, ao passo que a História geral, não, esta não poderia, porque o povo não tem tempo, ele não pensa, ele age através da memória, que é caos, insuportável às elites. Assim, a Geografia é mantida em banho-maria, em condição subalterna, ela é diluída, esgarçada, desfiada na qualidade de tecido-vivo, enquanto as elites favorecem o ensinaprendizado das histórias porque elas louvam as burguesias, mostram como elas foram grandiosas em PROVER PRESENTE (lutando em guerras, defendendo contra os tiranos ou antidemocratas, etc.).

                            Vê-se que os ideólogos populares REALMENTE comprometidos com os povos devem abandonar as histórias como histórias-viciadas, falsificadas, e grudar nas histórias não-falsificadas, nestas de hoje, de agoraqui, deste pontinstante onde ferozmente estão se dando as disputas. Os ideólogos populares DEVEM ESTUDAR O PRESENTE onde se dão as GUERRAS PELO AMANHÃ, não pelo ontem, embora não devam descuidar de atacar as elites, obrigando-as a re-ver suas mentiras.

                            Pois se hoje, dia 22/05/2004 é a G22052004, geografia do dia 22, ontem já é história, não é mais geografia, é H21, vinda de H20 e assim por diante. Sobre ontem já estão incidindo as mentiras das burguesias. E elas usam o jornalismo e a cartografia, formas baixas ou técnicas das disciplinas psicológicas-científicas história e geografia, para montar o esquema fresquinho das mentiras que serão validadas.

                            Vitória, sábado, 22 de maio de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário