sexta-feira, 23 de junho de 2017


De Má Vontade

 

                            O governo Lula entrou e desejou taxar os inativos, decretando 11 % de descontos (re-desconto, pois já foram descontados para aposentar), às vezes 10 % nos estados. No Espírito Santo, em particular, o IPAJM (Instituto Pensões e Aposentadorias Jerônimo Monteiro, popularmente conhecido como PIJAMA) passou o desconto dos ativos de 5,0 para 7,5 para 10,0 % ao longo de alguns anos. Mesmo assim, o governo só desconta a nossa parte e não repassa a sua, que seria de 20,0 % - está devendo desde o governo Albuíno, a partir de 1993, dívida que já chega a mais de bilhão de reais e nunca é cobrada pelo órgão.

                            Os aposentados já pagaram.

                            Pagaram durante 25 ou 30 anos, caso das professoras e dos professores, e durante 30 ou 35 anos os demais, aposentando-se proporcionalmente aos 25 ou 30 anos e perdendo parte da renda, se optarem por isso. Durante décadas os governos todos (federal, estaduais e municipais/urbanos) gastaram à bangu, desbragadamente, à vontade, sem medir esforço para gastar o que é dos outros. Aplicaram mal as receitas, desviaram verbas, pagaram juros excessivos, compraram e venderam dólares em momentos errados e fizeram mil coisas erradas, que seria muito interessante colocar em livro, justamente para contrastar com essas cobranças indevidas. De um lado as superexigências governamentais sobre o povo e do outro os desperdícios dos tributos e dos empréstimos feitos a juros extorsivos.

                            Como já contei várias vezes, durante o governo Geisel ocorreu a segunda crise do petróleo (a primeira foi de 1973 e a segunda de 1979) ele decidiu que no sentido de evitar idas e vindas de ônibus (ainda não existia o vale-refeição), para evitar de os funcionários irem a e voltarem de casa no período do almoço decidiu-se unilateralmente por um período de trabalho de seis horas por dia e não de oito horas. Essas horas transcorreriam de manhã ou de tarde, das 7 à 13 e das 12 às 18. Depois de os trabalhadores se acomodarem a isso, anos depois os governantes decidiram voltar atrás na UFES, quando propuseram voltar ao regime de oito horas diárias, contra o quê me coloquei. Por puro acidente o Brasil foi o primeiro país a adotar o regime semanal de 30 horas e não mais de 44 horas.

                            No recente processo de votação no Supremo Tribunal o ministro que votou a favor da cobrança justificou: 1) as pessoas se aposentam muito cedo (é culpa do INSS ou das fontes que não investigam, se errado, ou é resultado de começarem a trabalhar muito cedo, 14 ou 18 anos + 25 dando 39 ou 43, ou + 30 dando 44 ou 48 anos); 2) no governo ganham muito mais que nas empresas privadas (ninguém conta as incertezas políticas e o período em que no governo padecemos de inflação acelerada que nunca era reposta - no ES existia a famigerada trimestralidade que nos devolvia 60 % da inflação a cada três meses, comendo 40 % de uma inflação assustadora; nem a insegurança das perseguições políticas, nem nada daquilo que era ruim); 3) que os donos de escravos também alegaram direito adquirido, porém não é a mesma situação, a aposentadoria decorre de um CONTRATO DE TRABALHO CUMPRIDO (e comprido, de três décadas em média, para curta expectativa de vida).

                            Enfim, há dois pesos e duas medidas: a) o governo promete uma coisa; b) na hora de cumprir ele muda de idéia e golpeia.

                            Ficamos assim, nesse Brasil vil: não temos segurança de nada. Se você compra uma mercadoria (a aposentadoria) e paga (com trabalho), deve recebê-la. Não é possível ao empresário continuar cobrando 10 % da mercadoria o resto da vida, não faz sentido. É ilógico. Pagou, está definitivamente pago. As relações deveriam ser cristalinas, corretas, sem vícios, sem desconfianças de parte a parte. Quem pode viver em tal insegurança?

                            Vitória, quinta-feira, 27 de Maio de 2004.

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