Tripla Opção
Se a você oferecem a
opção 20 ou 80 isso pode constituir uma armadilha, desde quando a opção parece
indicar UM E NÃO OUTRO, exclusivamente, mas não a modalidade inclusiva AMBOS,
um e outro.
Opção significa
“ato, faculdade ou efeito de optar; livre escolha, preferência” no Houaiss
digital. Você pode escolher A (exclui B), B (você perde relação com A), AB
(desperdiça a chance de querer alternativas) e não-AB, isto é, nem um nem outro
- mas o que parece consagrado é um e não-outro, um exclusivamente.
Veja este exemplo.
Se no Brasil a
repartição das rendas é de 20 % dela para 80 % da população e ao
contrário/complementarmente 80 % dela para 20 % da gente, por qual optar? Povo
ou elites?
A opção pelas
elites, 20 % que detém 80 %, é a da qualidade com afastamento da quantidade;
mas você deve lembrar que os 80 % do povo detém tanta qualidade quanto os 20 %
das elites – assim, o povo também é qualitativo, embora na proporção individual
de 1/16 entre qualidade e quantidade. Estaria do lado da civilização com
afastamento da sociedade, como no Brasil.
A opção pelo povo,
80 % que detém 20 %, é da quantidade com afastamento da qualidade; porém você
deve recordar que os 20 % das elites detém tanta quantidade quanto os 80 % do
povo – desse modo as elites também são quantitativas, ainda que na relação
individual de 1/16 entre quantidade e qualidade. Estaria do lado da sociedade
com abandono da civilização, como em Cuba.
Você pode optar
pelos dois, povo e elites, povelite ou nação, com presença tanto de quantidade
quanto de qualidade, como no Japão, onde a cultura é equilíbrio máximo entre
ambas as bordas. Mesmo em qualquer regime 20/80 ainda é possível optar pelos
três lados.
Você também pode
optar por nenhum dos três e sim por manter-se afastado de ambos – seria a
quarta opção. Então, a própria construção do título poderia levar a uma
compreensão equivocada da questão. Por último, mas tão importante quanto, seria
optar por não discutir nenhuma das possibilidades. Afinal de contas ninguém
pode te obrigar a nada. A constituição brasileira, por exemplo, diz que
“ninguém é obrigado a fazer nem deixar de fazer nada, senão em virtude de lei”.
Há lei que te obrigue a escolher? Não há.
Esta exposição quer
dizer que nós devemos ser resistentes a imposições de escolhas e que devemos
meditar longamente, antes de tomar qualquer decisão. Quer dizer que não nos
oferecem elementos de escolha, muito menos durantes as eleições, e
especialmente não ao povo. Que nós somos obrigados a escolher sem nem mesmo conhecer
os detalhes das possibilidades, nem ao que levam elas. Não discutimos o
processo de escolha, os objetos de escolha, o que advirá de escolher, a busca
de outros objetos suscetíveis de escolha, a maioridade de quem oferece as
escolhas, etc.
Nós não temos tido
opção senão a de obrigatoriamente optar. Contudo, na realidade nada nos obriga;
entrementes, depois da opção ou escolha o que virá em decorrência dela fica
sendo de nossa inteira responsabilidade. Aí é que mora o perigo.
Vitória,
segunda-feira, 17 de novembro de 2003.
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