quinta-feira, 6 de abril de 2017


Tripla Opção

 

                            Se a você oferecem a opção 20 ou 80 isso pode constituir uma armadilha, desde quando a opção parece indicar UM E NÃO OUTRO, exclusivamente, mas não a modalidade inclusiva AMBOS, um e outro.

                            Opção significa “ato, faculdade ou efeito de optar; livre escolha, preferência” no Houaiss digital. Você pode escolher A (exclui B), B (você perde relação com A), AB (desperdiça a chance de querer alternativas) e não-AB, isto é, nem um nem outro - mas o que parece consagrado é um e não-outro, um exclusivamente.

                            Veja este exemplo.

                            Se no Brasil a repartição das rendas é de 20 % dela para 80 % da população e ao contrário/complementarmente 80 % dela para 20 % da gente, por qual optar? Povo ou elites?

                            A opção pelas elites, 20 % que detém 80 %, é a da qualidade com afastamento da quantidade; mas você deve lembrar que os 80 % do povo detém tanta qualidade quanto os 20 % das elites – assim, o povo também é qualitativo, embora na proporção individual de 1/16 entre qualidade e quantidade. Estaria do lado da civilização com afastamento da sociedade, como no Brasil.

                            A opção pelo povo, 80 % que detém 20 %, é da quantidade com afastamento da qualidade; porém você deve recordar que os 20 % das elites detém tanta quantidade quanto os 80 % do povo – desse modo as elites também são quantitativas, ainda que na relação individual de 1/16 entre quantidade e qualidade. Estaria do lado da sociedade com abandono da civilização, como em Cuba.

                            Você pode optar pelos dois, povo e elites, povelite ou nação, com presença tanto de quantidade quanto de qualidade, como no Japão, onde a cultura é equilíbrio máximo entre ambas as bordas. Mesmo em qualquer regime 20/80 ainda é possível optar pelos três lados.

                            Você também pode optar por nenhum dos três e sim por manter-se afastado de ambos – seria a quarta opção. Então, a própria construção do título poderia levar a uma compreensão equivocada da questão. Por último, mas tão importante quanto, seria optar por não discutir nenhuma das possibilidades. Afinal de contas ninguém pode te obrigar a nada. A constituição brasileira, por exemplo, diz que “ninguém é obrigado a fazer nem deixar de fazer nada, senão em virtude de lei”. Há lei que te obrigue a escolher? Não há.

                            Esta exposição quer dizer que nós devemos ser resistentes a imposições de escolhas e que devemos meditar longamente, antes de tomar qualquer decisão. Quer dizer que não nos oferecem elementos de escolha, muito menos durantes as eleições, e especialmente não ao povo. Que nós somos obrigados a escolher sem nem mesmo conhecer os detalhes das possibilidades, nem ao que levam elas. Não discutimos o processo de escolha, os objetos de escolha, o que advirá de escolher, a busca de outros objetos suscetíveis de escolha, a maioridade de quem oferece as escolhas, etc.

                            Nós não temos tido opção senão a de obrigatoriamente optar. Contudo, na realidade nada nos obriga; entrementes, depois da opção ou escolha o que virá em decorrência dela fica sendo de nossa inteira responsabilidade. Aí é que mora o perigo.

                            Vitória, segunda-feira, 17 de novembro de 2003.

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