sábado, 22 de abril de 2017


O Medo Uniformitarista

 

Uniformitarismo ou uniformismo é a doutrina, a doença mental da superafirmação da uniformidade; uniformitarista ou uniformista é o doutrinador, o que age para suprimir o modo de pensar alheio e conformá-lo ao seu, por exemplo, contesta o oposto, o catastrofismo, que diz que tudo é catástrofe o tempo todo. Já falei bastante deles, reunindo-os num terceiro, a catástrofuniformidade, solução do par catástrofe e uniformidade. Os extremos são superafirmações infantis, assim como esquerdismo e direitismo são extremismos. Pelo modelo central, tanto há uniformidade quanto catástrofe. Há uniformidade num tempo longo de acúmulo, depois de certo período acontecendo o derrame de catástrofe, como nas avalanches, nas enchentes.

Podemos ver que a imposição da uniformidade excessiva começou na Inglaterra, depois do longo período de domínio bíblico da ideia de dilúvio, uma catástrofe “de proporções bíblicas”, como se diz. O que veio a ser a Grã-Bretanha da Revolução Industrial (e do crescimento socioeconômico explosivo da burguesia local) necessitava espalhar dentro e fora, didaticamente, essa imagem de avanço lento e gradual, colocada no currículo do projeto de domesticação das crianças e dos adultos do povo, no sentido de passar segurança quanto ao futuro, para opô-la ao medo de terríveis calamidades, sempre presente no horizonte cultural – evidentemente desejando trabalho mais consistente e contínuo dos trabalhadores.

Apareceram muitas e muitas teses e dissertações sobre a continuidade geológica, paleontológica, antropológica, arqueológica e geo-história primeiro na Inglaterra e na França, depois nos outros países europeus; do catastrofismo bíblico religioso passou-se ao uniformitarismo tecnocientífico, agora o vencedor, o dominante no seio das nações.

Quem lê com atenção os livros de divulgação não vê isso de uniformidade persistente, de modo nenhum, pois as catástrofes se sucedem, das geológicas às geo-históricas, por toda parte. As civilizações entram em colapso, no tempo paleontológico ocorreram inúmeras crises, sem falar naqueles da geologia, sempre golpeada por aterradores movimentos da natureza zero.

Enfim, desastres não faltam.

Todos aqueles flagelos estão lá o tempo todo, em ritmos distintos, mas sobrepondo-se; contudo, agora as pessoas não os veem e se veem ignoram-nos, como antes era o contrário. Instalou-se o medo das revoluções e das desgraças, por exemplo, das doenças que sobrevém várias vezes em nossas vidas – não somos preparados para os desacertos - como antes, há 300 anos, nos enganavam de um lado, agora nos enganam de outro. As crianças não são educadas para ver o mundo real, mas para ver o domínio tecnocientífico, o que é aceito pelos pesquisadores seletivos.

Vitória, sábado, 22 de abril de 2017.

GAVA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário