O
Medo Uniformitarista
Uniformitarismo ou uniformismo é a doutrina,
a doença mental da superafirmação da uniformidade; uniformitarista ou
uniformista é o doutrinador, o que age para suprimir o modo de pensar alheio e
conformá-lo ao seu, por exemplo, contesta o oposto, o catastrofismo, que diz
que tudo é catástrofe o tempo todo. Já falei bastante deles, reunindo-os num
terceiro, a catástrofuniformidade, solução do par catástrofe e uniformidade. Os
extremos são superafirmações infantis, assim como esquerdismo e direitismo são
extremismos. Pelo modelo central, tanto há uniformidade quanto catástrofe. Há
uniformidade num tempo longo de acúmulo, depois de certo período acontecendo o
derrame de catástrofe, como nas avalanches, nas enchentes.
Podemos ver que a imposição da uniformidade
excessiva começou na Inglaterra, depois do longo período de domínio bíblico da
ideia de dilúvio, uma catástrofe “de proporções bíblicas”, como se diz. O que
veio a ser a Grã-Bretanha da Revolução Industrial (e do crescimento socioeconômico
explosivo da burguesia local) necessitava espalhar dentro e fora,
didaticamente, essa imagem de avanço lento e gradual, colocada no currículo do
projeto de domesticação das crianças e dos adultos do povo, no sentido de
passar segurança quanto ao futuro, para opô-la ao medo de terríveis calamidades,
sempre presente no horizonte cultural – evidentemente desejando trabalho mais
consistente e contínuo dos trabalhadores.
Apareceram muitas e muitas teses e
dissertações sobre a continuidade geológica, paleontológica, antropológica,
arqueológica e geo-história primeiro na Inglaterra e na França, depois nos
outros países europeus; do catastrofismo bíblico religioso passou-se ao uniformitarismo
tecnocientífico, agora o vencedor, o dominante no seio das nações.
Quem lê com atenção os livros de divulgação
não vê isso de uniformidade persistente, de modo nenhum, pois as catástrofes se
sucedem, das geológicas às geo-históricas, por toda parte. As civilizações
entram em colapso, no tempo paleontológico ocorreram inúmeras crises, sem falar
naqueles da geologia, sempre golpeada por aterradores movimentos da natureza
zero.
Enfim, desastres não faltam.
Todos aqueles flagelos estão lá o tempo todo,
em ritmos distintos, mas sobrepondo-se; contudo, agora as pessoas não os veem e
se veem ignoram-nos, como antes era o contrário. Instalou-se o medo das
revoluções e das desgraças, por exemplo, das doenças que sobrevém várias vezes
em nossas vidas – não somos preparados para os desacertos - como antes, há 300
anos, nos enganavam de um lado, agora nos enganam de outro. As crianças não são
educadas para ver o mundo real, mas para ver o domínio tecnocientífico, o que é
aceito pelos pesquisadores seletivos.
Vitória, sábado, 22 de abril de 2017.
GAVA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário