Empregada em
Fascículos
Há em Clarice
Lispector uma frase que é lapidar: “começaria a arrumar pelo quarto da
empregada, em sua dupla função de depósito de trapos e gente”, algo assim.
Enfim, as pessoas
não têm ainda hoje (e tinham ainda menos) consideração pelas empregadas
domésticas, que foram domesticadas para tratar da casa, como bichos que fossem
treinados a ponto de serem admitidos no sacrossanto do lar.
Ensinando-as a
reivindicar seus direitos e como se prepararem para sua profissão, como se sindicalizar
e as tarefas próprias: lavar, passar, cozinhar, costurar, servir, o que for.
Receitas, macetes, como tratar com os patrões, aonde ir para receber as horas
trabalhadas quando estejam em desacordo, férias, roupas de trabalho, salários
em cada região (no Nordeste trabalham por 30 reais por mês, 10 dólares), como
se valorizar, onde existem cursos (SESI, SENAI, SENAC, SESC e outros lugares).
Penso que há aí todo um fascínio novo. Não pode custar muito, porque elas
recebem o salário mínimo, 240 reais, 80 dólares. Mas existirão segundo o modelo
sempre 2,5 % ou 1/40 dos patrões que serão favoráveis a elas e comprarão as
revistas. Em 175 milhões de brasileiros, relação de 4/1 nas famílias, teremos
43,75 milhões de famílias, aquele 1/40 significando edição nacional possível de
1,1 milhão de exemplares. Como os 20 % de ricos e médios-altos seriam deles 220
mil, eis o potencial mensal de vendas. Dado que além de organizar as empregadas
para elas mesmas e suas famílias os fascículos melhorariam substancialmente o
serviço interno seria bom também para o patronato.
Forçar através dos
fascículos que a remuneração vá subindo até um dia estar no nível dos EUA hoje,
que é, segundo a gente fica sabendo, de 900 dólares. Entrevistar governantes,
políticos, advogados, um punhado de gente que tenha conselhos de como melhorar
a situação delas. Espalhar pelo mundo, até chegando a um programáquina Empregada 1.0, renovável à Microsoft de
três em três anos.
Registrável no
cartório de títulos e documentos Myrian Castelo Miguel, salas 911 e 912, Ed.
Jusmar, Praça Getúlio Vargas, 35, Centro, Vitória, ES.
Vitória, domingo, 21
de dezembro de 2003.
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