Dois Fogos
Quanto mais
raciocino sobre o Modelo da Caverna dos homens caçadores e das mulheres
coletoras mais me admiro da separação que havia entre ambos e de como sobre ela
pôde ser construída essa extraordinária parceria entre machos e fêmeas em nome
do nosso futuro.
Vejo do isolamento
que homens e mulheres consideravam diferentemente seus corpomentes, como deve
ser, em razão do mero dimorfismo sexual, mas também aos objetos. Por exemplo,
não viam da mesma forma o fogo, que não era um, eram dois, o FOGO DOS HOMENS (ou
FOGO MASCULINO, de que participavam as pseudofêmeas) e o FOGO DAS MULHERES (ou
FOGO FEMININO, em volta do qual estavam os pseudomachos). O FM era destrutivo,
consumidor, violento, condição de defesa e de ataque às feras na caça, enquanto
o FF era controlado, passivo, administrado com segurança, para proteção das
mulheres e dos filhos e de todos os estropiados que ficavam. O primeiro era
individual e isolado, o segundo coletivo e partilhado.
Eram dois fogos
diferentes e os fogos descendentes deles são hoje ainda desiguais, o que pode
ser investigado – terá deixado trilhas na maneira de acender e de controlar
enquanto está aceso. O das mulheres é fogo utilitário, para servir, para
produzir, ator coadjuvante, enquanto o fogo dos homens é ofensivo, é guerreiro,
é atacante também, é FOGO DE VENCER, fogo de rompimento de defesas do
adversário e do inimigo, fogo que se alastra. Não é fogo amigo, como o das
mulheres, é fogo inimigo, fogo brabo, fogo atiçado, fogo contrário, fogo
hostil, fogo mortal. O fogo das mulheres é familiar, íntimo, pequeno e
administrável, governável, é caseiro, domesticado, particular, não foge do
controle, não avança. Assim sendo, o outro fogo, o fogo alastrável lhes meterá
medo pânico, terror absoluto, incontrolável, onde quer que elas se deparem com
ele, ao passo que aos homens o fogo das mulheres parecerá desprezível, anão
detestável, ínfimo, ineficaz, risível.
Se estou certo,
essas duas formas de ver ainda poderão ser rastreadas tanto nas sociedades
pós-contemporâneas quanto nas remanescentes indígenas dos tempos antigos e nos
restos antigos todos.
Vitória, domingo, 04
de janeiro de 2004.
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