sexta-feira, 21 de abril de 2017


As Duas Prisões do Gênio

 

                            O que faz o gênio quando não está servindo à população? Penso que fica em seu escritório dentro da garrafa digitando em seu programáquina genial, servindo a si mesmo, procurando compreender o universo. Fica organizando o caos para si mesmo e quando sai vai organizar a ordem para outros, isto é, satisfazer desejos. Porisso o gênio é duplamente prisioneiro: 1º) de si mesmo, porque estando acima da média MUITOS problemas o visitam procurando encontrar a porta da solução; 2º) dos desejos alheios que é obrigado a atender, por consideração ou regra da profissão.

                            Pensando que há uma quantidade de gente que pode gerar média oscilante conforme nasçam ou morram estes ou aqueles, gênio é todo aquele que se situando acima da média é doador aos receptores. Estatística ou teoricamente é isso, quer dizer, qualitativa ou conceitualmente. Na prática gênio é todo aquele que cria, mesmo o que re-cria o que em outras partes já é sabido (porisso existem os segundos-gênios, terceiros-gênios, quartos-gênios e quintos-gênios, depois dos primeiros-gênios do primeiro mundo). Como, exceto um, todos estão acima de alguém, todos, menos um, sãos gênios, e todos são prisioneiros, fatal-mente resolvendo problemas para os outros.

                            Mas os GÊNIOS QUALITATIVOS (para distinguir dos gênios quantitativos, os pobres em genialidade), os ricos em genialidade, esses são MAIS PRISIONEIROS que os outros, porque são insistentemente procurados. E os primeiros-gênios do primeiro mundo (existem alguns deles nos demais mundos e vice-versa, gênios de segunda a quinta mão no primeiro mundo) estão ainda mais aprisionados nas rodas da engrenagem da produção e da reprodução.

                            Imagino que ser gênio não seja sempre bom, mas deva ter suas compensações, com os venenos moleculares correspondentes cativando as gerações, pois os gênios sobrevivem, são mais aptos, alcançam o futuro, razão pela qual devem ter valor de sobrevivência para os outros (claro) e para si mesmos. Enfim, cada um que viva de suas recompensas.

                            Vitória, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003.

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