quarta-feira, 19 de abril de 2017


A Calçada como Interface

 

                            Não vejo mais as coisas como via antes.

                            Quando olho as calçadas, por exemplo, enxergo projetos para tecnartistas (da visão, da audição, do olfato, do paladar e do tato) e para pesquisadores do Conhecimento (magos/artistas, teólogos/religiosos, filósofos/ideólogos, cientistas/técnicos e matemáticos), para psicólogos (de figuras ou de psicanálises, de objetivos ou psico-sínteses, de produções ou economias, de organizações ou sociologias, de espaçotempos ou geo-histórias), para economistas (agropecuários/extrativistas, industriais, comerciais, de serviços, de bancos). Enfim, como uma interface, uma face-entre-dois-confrontantes, que podem ser também amigos.

                            Vejamos as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES          (municípios/cidades, estados, nações e mundos) para situar que calçadas são os elos entre as primeiras e os segundos. A CALÇADA URBANA é, naturalmente, diversa da CALÇADA RURAL, se pudermos colocar assim, pois esta sequer é bem delimitada.

                            A Calçada geral é um ESPAÇOTEMPO DE DESENHO.

                            Como a desenharíamos, geralmente?

                            Ali estão postes, lixeiras, telefones, bancas de revistas, vasos de flores, hidrantes, uma quantidade grande de coisas. A calçada é do lote diante da qual se situa e ela é pavimentada, preparada por essa pessoa, mas o governo a destina à passagem de pedestres e à colocação de imensidade de coisas. Houve um aproveitamento público do que é particular. Assim, a Calçada foi andando de caos em caos até ser essa coisa tremendamente conturbada de hoje, em que há uma intrusão geral e em que até há pouco tempo atrás os carros subiam indiscriminadamente, tomando-as aos pedestres, depois de terem se apoderado das ruas que são, em tese, de todas as pessoas que pagam tributos (um terço do meu salário é destinado a tributos, mas pouco uso a rua, porque não tenho carro).

                            Se a Calçada é aquele ET de Desenho, como anunciei, os governos não tratam de contratar tecnartistas para embelezá-las, em particular não aos arquiengenheiros. Não há quem destine o tempo de um grupo-tarefa a essa renovação necessária, fundamental até. Quanto a Calçada poderia ser melhorada pelo olhar amoroso e interessado de gente competente? Penso que muito, e isso é devido.

                            Vitória, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003.

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