quinta-feira, 9 de março de 2017


Verdadeiro Cenário de Catástrofe

 

                            Nos cerca de oito ou dez filmes sobre quedas de meteoritos dos últimos dez ou quinze anos fizeram alguns razoáveis e a maioria péssimos.

                            Para começar, não se nota neles a sensação de desespero que tomaria conta de toda a população mundial – as feições estão sempre tranqüilas, quase em êxtase. Depois, a presença de atores principais exige que a continuação das cenas os salve, independentemente de qualquer cenário real, que seria profundamente devastador, não poupando ninguém. A queda seria estatística: a) 70 % de chances de ser nos oceanos; b) 30 % em terras emersas. Destas os EUA, com uns 9,4 milhões de km2, teriam 9,4/170, ou menos de 6 % de chance de receber o impacto (e, não obstante, quase sempre caem lá; se não caíssem não faria diferença, a destruição os atingiriam de qualquer modo).

                            Depois, é preciso saber que em geral a cratera aberta corresponde a 20 vezes o diâmetro maior do meteorito. Assim, um de 100 km abriria uma cratera de cerca de dois mil quilômetros de diâmetro. Imagine que um de 15 km iniciou o processo que deu fim aos dinossauros, a partir de 65 milhões de anos atrás, no Iucatã.

                            Primeiro ele vaporizaria o que tocasse diretamente, no caso plantas, fungos, animais, humanos e suas construções, levantando todo material até a atmosfera, que fica muito mais densa de água e terra. Pó obscurecendo a luz do Sol por dias, semanas, meses, anos, acabando com a foto-síntese. Água caindo torrencialmente por meses e devastando as colheitas, com enchentes formidáveis e incontroláveis, as maiores já vistas. Furacões, tsunamis, monções fora de época. Propagação violentíssima de vulcões, despertando todos os adormecidos e criando novos aos milhares, de todos os tamanhos. Terremotos, maremotos, avalanche de todas as neves.

                            Logo de cara, no impacto, ondas de VÁRIOS QUILÔMETROS DE ALTURA circundariam o planeta, varrendo tudo, até as mais altas montanhas, e deixando um rastro de destruição quase total. Muitos pedaços da Terra seriam ejetados, uns para sempre, outros recaindo logo em seguida e abrindo novas crateras, e outros nos anos e décadas a seguir. Tudo avermelharia em volta da cratera por centenas de quilômetros, esquentando a água continuamente, fazendo-a evaporar.

                            De início a bola de fogo iria se espalhando e queimando o ar e as coisas, postos de gasolina, usinas de energia, queimando empresas em milhares de quilômetros ao redor. Tudo que tivesse sobrado da civilização humana estaria agora em colapso, com todo o Conhecimento sucumbindo numa exponencial descendente e assintótica. Os governempresas estariam morrendo à míngua. Todos os laços dos conjuntos se desfariam aceleradamente para as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações, mundo, com regressão acelerada). A Lei Marcial seria decretada, os governos remanescentes se isolariam.

                            Nos filmes temos sempre simpatias humanas a preservar por crianças, mulheres, velhos e mocinhos, os heróis e heroínas, os símbolos humanos que o outro lado não tem por quê reconhecer. De forma que um filme verdadeiro deveria de cara excluir terminantemente todo rosto reconhecido do Cinema e da TV. Depois, seria preciso adotar as estatísticas e as probabilidades, por exemplo, de queda 7/3 favorável no mar. A seguir, seria preciso estudar junto aos pesquisadores o que mais provavelmente aconteceria, um estudo sério e ajuizado, para os diversos tamanhos de pedras.

                            O propósito deveria ser começar a preparar a civilização terrestre para eventos reais e reação controlada a eles (se possível), criando um grupo planetário com certa autoridade disparada por evento provável. Com carteiras alternativas de identidade para os que fossem ser preferencialmente salvo - no sentido de proteger e resgatar os demais. Dá um filme formidável e seqüências bem educativas mesmo.
                            Vitória, quinta-feira, 21 de agosto de 2003.

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