Traduzindo o Brasil
É chocante ver
tantos nomes de lojas e cartazes escritos em inglês (antes era em francês). De
hot dog a hot paradise, passando por milhares de outros, o Brasil está coalhado
de norte a sul, de leste a oeste, de estrangeirismos, alguns já incorporados à
nossa língua.
Faria todo sentido
um acadêmico (universitário ou de instituto) escrever um livro com o título de A Tradução do Brasil mostrando algumas
e listando todas as possíveis placas e nomes de empresas tal como encontrados
nas juntas comerciais dos estados. Quanto nos desnacionalizamos? Em qual região
(Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) existem mais distorções? Quanto
renegamos nossa nacionalidade lingüística para abraçar as estrangeiras? Quanto
deixamos de ser nós mesmos para sermos os outros? Quanto nos alienamos de
nossas identidades? Quanto nos envergonhamos de sermos brasileiros
lingüisticamente descendentes dos portugueses?
Vivemos em corpos
alheios copiando suas modas, vivemos em mentes estranhas imitando os conceitos
d’outrem. Estamos em casas que não são as nossas, vibramos com as personagens
geo-históricas dos outros, trabalhamos em escritórios próprios de diversos
mundos. Por quê somos incapazes de adotar nossa maioridade cultural,
civilizatória, social? Por quê gostamos de nos enxergar pequenos, infantis,
menores de idade? Por quê só os sentimentos do Norte são valorizados aqui? Por
quê só pensamos com as cabeças deles?
Enquanto não nos
virmos pequenos como temos preferido ser não seremos capazes de caminhar para a
maioridade. O começo do ataque à farsa deve ser esse da exposição da
dependência linguística. Praza Deus que alguém assuma a tarefa (já que me
recusei a aprender o inglês).
Vitória, sábado, 04
de outubro de 2003.
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