domingo, 5 de março de 2017


Outra América

 

                            Imagine os EUA com tudo como é, inclusive os americanos anglo-saxões e o resto todo, quase exatamente igual, exceto por a língua ser o japonês e a escrita feita a partir dos ideogramas chineses, só que invertidos e de cabeça para baixo, ou seja, dupla reflexão, de modo que os chineses e japoneses não os reconheçam imediatamente; e, além disso, os ideogramas sejam usados para transcrever as palavras do inglês americanizado. Do outro lado, no Japão falariam inglês.

                            É a velha questão do espelho, para forçar as pessoas a raciocinar e verem-se de fora.

                            No caso, destoaria, os americanos estouvados como são falando japonês, as placas do comércio grafadas daquele modo, e os japoneses, educadíssimos, falando tudo em inglês (muitos já o fazem), com a diferença de que as suas placas estariam em inglês e umas poucas em espanhol. Além disso, ficaria muito esquisito os japoneses freqüentando igrejas protestantes, mas não jogando os jogos americanos, porque já fazem isso.

                            Que lição tiraríamos disso?

                            Certamente uma delas é que as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo) moldam a língua, mas o contrário também é verdadeiro. Não há jeito de construir uma sociedade como a japonesa com outra língua. Assim sendo, as socioeconomias são retratos das línguas e dos modos de falá-las. E, tendo aquela língua, os japoneses teriam outra religião? Em que medida tudo está profundamente imbricado? Como a Psicologia (figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias, organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) são moldadas pela pensimaginação da língua? Acho que o Cinema mundial pode contribuir poderosamente para essa investigação.

                            Vitória, domingo, 27 de julho de 2003.

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