Outra América
Imagine os EUA com
tudo como é, inclusive os americanos anglo-saxões e o resto todo, quase
exatamente igual, exceto por a língua ser o japonês e a escrita feita a partir
dos ideogramas chineses, só que invertidos e de cabeça para baixo, ou seja,
dupla reflexão, de modo que os chineses e japoneses não os reconheçam
imediatamente; e, além disso, os ideogramas sejam usados para transcrever as
palavras do inglês americanizado. Do outro lado, no Japão falariam inglês.
É a velha questão do
espelho, para forçar as pessoas a raciocinar e verem-se de fora.
No caso, destoaria,
os americanos estouvados como são falando japonês, as placas do comércio
grafadas daquele modo, e os japoneses, educadíssimos, falando tudo em inglês
(muitos já o fazem), com a diferença de que as suas placas estariam em inglês e
umas poucas em espanhol. Além disso, ficaria muito esquisito os japoneses
freqüentando igrejas protestantes, mas não jogando os jogos americanos, porque
já fazem isso.
Que lição tiraríamos
disso?
Certamente
uma delas é que as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os
ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo) moldam a língua, mas o
contrário também é verdadeiro. Não há jeito de construir uma sociedade como a
japonesa com outra língua. Assim sendo, as socioeconomias são retratos das
línguas e dos modos de falá-las. E, tendo aquela língua, os japoneses teriam
outra religião? Em que medida tudo está profundamente imbricado? Como a
Psicologia (figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou
economias, organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) são
moldadas pela pensimaginação da língua? Acho que o Cinema mundial pode
contribuir poderosamente para essa investigação.
Vitória, domingo, 27
de julho de 2003.
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