domingo, 5 de março de 2017


Os Seguidores dos Cinco Cegos

 

                            No livro de Jorge Luis Borges e Alicia Jurado, Buda, 3ª edição, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1987 (sobre original de 1977), p. 41, eles dizem: “Outra parábola se refere ao caso de um grupo de cegos de nascimento que desejavam saber como era um elefante. Um tocou a cabeça do animal e disse que era como uma grande cuba; outro tateou a tromba do animal e disse que se parecia com uma serpente; o terceiro sentiu as presas e afirmou que era igual às grades de um arado; outro mais, que tocara o lombo, disse que era como um prédio; e outro, por ter tateado uma pata do elefante afirmou que este animal era semelhante a uma pilastra. Idêntico é o erro daqueles que querem saber o que é o universo”. Na versão que conheço um dos cegos toca uma orelha, mas isso é irrelevante.

                            Como eu já disse, os cinco cegos são os conhecimentos (mágicos-artísticos, teológicos-religiosos, filosóficos-ideológicos, científico-/técnicos e da Matemática, que é o conhecimento central). Só não disse antes que cada cego desses tem uma fieira de seguidores, da qual extrai veneração À CEGUEIRA, veneração dedicada aos erros e à afirmação dos erros como se fossem verdades. Não buscam o elefante todo, o eixo de concórdia, mas a possibilidade de afirmar isso e aquilo em nome próprio, os inventores de seita, e em nome alheio os inventores da obediência, até transformando isso, eventualmente, em disputa verbal e chegando “às vias de fato”, quer dizer, à guerra ou qualquer conflito físico.

                            Em especial nós vemos os religiosos criando uma infinidade de religiões e dentro destas de seitas, que proliferam como os cogumelos depois da chuva. Sejam eles autênticos em sua fé ou meros aproveitadores cínicos, todos extraem o trabalho alheio, em nome desse pavor que temos da morte, e do desconhecimento que os racionais, de qualquer modo e em qualquer lugar, terão da maioria das coisas. Perguntam se os racionais de outras estrelas serão religiosos: sim, o modelo o diz, ¼ será sempre teo-religioso, sem dúvida alguma. E todos os racionais renderão obediência a um dos pólos. O pólo T/R seguirá sendo, em qualquer mundo, PANTEÍSTA, POLITEÍSTA, MONOTEÍSTA e NÃO-TEÍSTA, tal como diz o modelo, em diferentes fases de sua existência, com diversas frações agregadas. E em toda parte os picaretas de plantão tirarão futuro dos otários a postos. Os seguidores dos cinco cegos estarão sempre sendo ordenhados.

                            Vitória, quarta-feira, 30 de julho de 2003.

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