Os Dizeres do Povo
O povo fala “ai, canhanha”
(cujo significado é obscuro, mas negativo), “saltar de banda” (sair da jogada),
“paradinha”, “se aparecer” (se mostrar), “ser-se” (“se eu ser-se” por “se eu
fosse”), “sacumé” (sabe como é?), “simbora” (vamo-nos embora? - através de
“vão-simbora”) e inúmeras palavras de gíria e expressões muito engraçadas.
Dicionários de gírias existem vários, mas de expressões são poucos, se existem
(eu não conheço).
COMO É QUE AS NAÇÕES
VÃO SE FAZENDO OUTRAS?
Como é que mudam por
esses dois índices, as gírias e as expressões idiomáticas? As mudanças
socioeconômicas, como as das placas continentais (que se alteram ao ritmo de um
centímetro por ano), embora mais rápidas que estas, também são lentas diante da
vida humana, ainda que tenha havido e venha havendo uma compressão
geo-histórica notável, como notei em 1975.
Essas coisas estão
acontecendo sob nossas vistas, sem que a Academia (universidades e institutos)
possa dar-nos um retrato preciso, por exemplo, fazendo por década um
levantamento de quantas palavras e sentidos novos foram introduzidos, e
partindo de onde, de quais regiões e estados?
A mudança da língua
é mudança de nossa inserção no mundo, de nossa compreensão-de-mundo, de nossa
alienação ou afastamento de nós, ou, ao contrário, de nossa aproximação, nossa
autonomia, nossa independência AMBIENTAL (nacional, estadual, municipal/urbana)
e PESSOAL (empresarial, grupal, familiar, individual). Saber COMO DIZ O POVO é
saber COMO O POVO SE DIZ, como ele se vê, e como ele vê suas elites, seus
governantes, seus empresários. Quem não estuda a língua, inclusive a
língua-nova, não estuda a alma; e se não se conhece, como poderia ter e dar o
melhor de si?
Vitória,
terça-feira, 07 de outubro de 2003.
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