sexta-feira, 24 de março de 2017


Os Amigos do Predador

 

                            UMA GEO-HISTÓRIA DE SUCESSO

ANO - SAFRAS
PRODUÇÃO (milhões TON): A
ÁREA (milhões hectares): B
A/B: X
90/91
57,8
37,8
1,53
94/95
81,2
36,8
2,25
02/03
112,4
42,3
2,66
AUMENTO PERCENTUAL
02/03 sobre 90/91
94 %
12 %
7,8
AP 02/03 sobre 94/95
38 %
15 %
2,5
AP 94/95 sobre 90/91
48 %
< 1 %
> 48

Observe que isso nos permite uma releitura.

Diferentemente de Qualidade da Racionalidade, neste mesmo Livro 45, em que apontei ter sido Fernando Henrique Cardoso que, como presidente, disparou a grande maioria das transformações, aqui foi a dupla Collor/Itamar (o primeiro 89/91, o segundo 92/93) que começou a mudança do cenário agropecuário/extrativista no Brasil. A relação A/B = 2,5, que mostra a quantidade de terra empregada na produção, permite ver que uma ocupação maior 17 % gerou aumento de 38 % na produção de grãos no período de FHC, entre 1994 e 2002. No geral a relação maior foi A/B = 7,8 aumentando-se a área em 12 % para fazer crescer a produção em 94 %. Mas no período de Collor/Itamar a relação é espantosamente maior, porque uma redução da ocupação gerou um aumento de quase 50 %. Certamente foram esses dois em seus governos que dispararam a melhoria da ocupação das terras e a produção muito maior, no geral quase dobrando em 12 anos.

Entrementes, não é disso que quero falar, não é a questão central do artigo, e sim o fato de que a área ocupada pela plantação de soja chegou a 16,5 milhões de hectares, o que corresponde a 165 mil km2, pois um hectare = 10.000 m2, sendo preciso 100 deles para fazer um quilômetro quadrado. Ora, essa área é mais de três vezes (3,62) a do Espírito Santo inteiro (45.597 km2). Vemos que os amigos do predador se dão bem, vão ocupando cada vez mais espaço, enquanto os outros definham. Como diz o adágio: “aos amigos as facilidades da lei, aos indiferentes a lei e aos inimigos os rigores da lei”.

Acontece que a dialética nos previne que havendo tempo no ciclo os inimigos ficam amigos e vice-versa. Embora queiramos soja e não capim, o fato é que ela está ocupando TRÊS VEZES a área toda do ES, o que significa que está afastando o mesmo tanto as outras culturas e inculturas, neste caso a Natureza virgem, sem toque humano. Os cachorros se tornam cada vez em maior número, enquanto lobos-guará, raposas, lobos e outros animais indóceis, não-domesticados, vão sendo mortos e extintos (como o dingo) ou ficam à beira da extinção.

Seria bom se a par desse sucesso enorme e auspicioso os governempresas estivessem reservando porções comparativamente crescentes da primeira natureza em reservas biológicas efetivamente protegidas e que os próprios ocupadores privados da terra aprendessem o valor disso e sem leis nem pressões, apenas por compreenderem e se acostumarem, reservassem também.

Muito bom que o ser humano seja mais bem alimentado, mas preservar os valores dos outros também é bom, razão pela qual apontei a necessidade de criar no Congresso representações dos fungos, das plantas, dos animais e dos antropóides. A Terra não é só humana. Disparar o aumento da produção é fácil, rende votos e propaganda; proteger a Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia – no centro a Vida, no centro do centro a Vida racional) é mais difícil, encontra oposição.

Prestem atenção.

Vitória, domingo, 12 de outubro de 2003.

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