Os Amigos do Predador
UMA GEO-HISTÓRIA DE SUCESSO
ANO
- SAFRAS
|
PRODUÇÃO
(milhões TON): A
|
ÁREA
(milhões hectares): B
|
A/B:
X
|
90/91
|
57,8
|
37,8
|
1,53
|
94/95
|
81,2
|
36,8
|
2,25
|
02/03
|
112,4
|
42,3
|
2,66
|
AUMENTO
PERCENTUAL
02/03 sobre 90/91
|
94 %
|
12 %
|
7,8
|
AP 02/03 sobre 94/95
|
38 %
|
15 %
|
2,5
|
AP 94/95 sobre 90/91
|
48 %
|
< 1 %
|
> 48
|
Observe que isso nos permite uma
releitura.
Diferentemente de Qualidade da Racionalidade, neste mesmo Livro 45, em que apontei ter
sido Fernando Henrique Cardoso que, como presidente, disparou a grande maioria
das transformações, aqui foi a dupla Collor/Itamar (o primeiro 89/91, o segundo
92/93) que começou a mudança do cenário agropecuário/extrativista no Brasil. A
relação A/B = 2,5, que mostra a quantidade de terra empregada na produção, permite
ver que uma ocupação maior 17 % gerou aumento de 38 % na produção de grãos no
período de FHC, entre 1994 e 2002. No geral a relação maior foi A/B = 7,8
aumentando-se a área em 12 % para fazer crescer a produção em 94 %. Mas no
período de Collor/Itamar a relação é espantosamente maior, porque uma redução
da ocupação gerou um aumento de quase 50 %. Certamente foram esses dois em seus
governos que dispararam a melhoria da ocupação das terras e a produção muito
maior, no geral quase dobrando em 12 anos.
Entrementes, não é disso que quero
falar, não é a questão central do artigo, e sim o fato de que a área ocupada
pela plantação de soja chegou a 16,5 milhões de hectares, o que corresponde a
165 mil km2, pois um hectare = 10.000 m2, sendo preciso
100 deles para fazer um quilômetro quadrado. Ora, essa área é mais de três
vezes (3,62) a do Espírito Santo inteiro (45.597 km2). Vemos que os
amigos do predador se dão bem, vão ocupando cada vez mais espaço, enquanto os
outros definham. Como diz o adágio: “aos amigos as facilidades da lei, aos
indiferentes a lei e aos inimigos os rigores da lei”.
Acontece que a dialética nos previne que
havendo tempo no ciclo os inimigos ficam amigos e vice-versa. Embora queiramos
soja e não capim, o fato é que ela está ocupando TRÊS VEZES a área toda do ES,
o que significa que está afastando o mesmo tanto as outras culturas e
inculturas, neste caso a Natureza virgem, sem toque humano. Os cachorros se
tornam cada vez em maior número, enquanto lobos-guará, raposas, lobos e outros
animais indóceis, não-domesticados, vão sendo mortos e extintos (como o dingo)
ou ficam à beira da extinção.
Seria bom se a par desse sucesso
enorme e auspicioso os governempresas estivessem reservando porções
comparativamente crescentes da primeira natureza em reservas biológicas
efetivamente protegidas e que os próprios ocupadores privados da terra
aprendessem o valor disso e sem leis nem pressões, apenas por compreenderem e
se acostumarem, reservassem também.
Muito bom que o ser humano seja mais
bem alimentado, mas preservar os valores dos outros também é bom, razão pela
qual apontei a necessidade de criar no Congresso representações dos fungos, das
plantas, dos animais e dos antropóides. A Terra não é só humana. Disparar o
aumento da produção é fácil, rende votos e propaganda; proteger a Bandeira
Elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia – no centro a Vida, no centro do
centro a Vida racional) é mais difícil, encontra oposição.
Prestem atenção.
Vitória, domingo, 12 de outubro de
2003.
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