O Perdido Cérebro de
Wiener
No mesmo livro de
Asimov, Antologia/2, p. 19, ele diz:
“Dessa forma, o professor avoado – contando que suas dificuldades se situem
unicamente em se lembrar do próprio nome, ou de que dia é hoje, ou do que comeu
no almoço, ou de que tem um compromisso marcado (vocês deviam ouvir as
histórias sobre Wiener) – continuará sendo inteligente na medida em que for
capaz de aprender, gravar e lembrar um extenso volume de informações
relacionadas a alguma área associada à inteligência”. Mais abaixo, na nota de
rodapé, acrescenta sobre Wiener: “Filósofo, matemático e cibernético
norte-americano, Norbert Wiener (1894 – 1964) foi considerado um prodígio de
inteligência. Além de contribuições decisivas ao desenvolvimento da
informática, falava 13 línguas, inclusive a chinesa, pronunciando conferências
científicas em todas elas”.
Veja como age a
Natureza, ao montar esses cérebros extraordinários e no auge de sua potência
matá-los! Isso é revoltante. E é claro que é o cérebro, embora o corpo lhe
desse a forma característica; entrementes, se o cérebro e a personalidade de
Wiener tivessem sido transportados a outro corpo as pessoas continuariam
felizes em tratarem com esse formalmente novo ele.
Como poderemos
compreender que a Natureza proceda assim e não tenha desenvolvido um gênero de
sobrevivência do mais apto cuja aptidão fosse justamente a de sobreviver por
séculos ou milênios? É claro que o projeto da Natureza é o do Conhecimento
(Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e
Matemática), aí a pontescada tecnocientífica, nela a pontescada científica
(Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5
e Dialógica/p.6). Não podemos parar no nível da Psicologia/p.3, assim como não
paramos no patamar da Biologia/p.2. Devemos caminhar como PESSOAS (indivíduos,
famílias, grupos e empresas) e como AMBIENTES (municípios/cidades, estados,
nações e mundo).
O que aconteceria se indivíduos de
centenas ou milhares de anos vivessem? Uma vez li um exercício de FC em que o
personagem tinha justamente centenas de anos. Eles não teriam muitos filhos, só
para começar, nem muita iniciativa porque poderiam esperar décadas para começar
qualquer coisa – e assim o ritmo de ocupação do mundo e de mudança seria incomparavelmente
mais lento. Sem falar em outros danos.
Seria interessante
recomeçar exercícios aprofundados, mais detidos, com mais gente criando os
roteiros de livros e de filmes, para termos uma referência sobre a qual pautar
nossa percepção agora alargada. Pois todo mundo deseja viver centenas e até
milhares de anos. Supomos sempre que teremos uma pessoa equilibrada assim do
tipo de Wiener, mas do outro lado pensemos num destemperado feito Hitler.
O que um ser milenar
faria? Se vivesse entre os de vida curta como nós sua presença contaminaria
todas as pessoas e todos os ambientes e sua palavra seria lei, literalmente
(sequer conheceríamos as leis como as conhecemos), sem qualquer reflexão
possível ou destoante. De fato, a ÚLTIMA PALAVRA. Nos livros e Tolkien existem
os elfos que vivem milhares e até centenas de milhares de anos, mas eles são
bondosos e vivem apartados. Imagine um “eterno” entre nós, para encher-se de
terror.
Talvez, afinal de
contas, a Natureza venha agindo certo, embora a perda de um cérebro como o de
Wiener nos encha de comiseração e desgosto. Como diz o ditado, talvez esse
tenha sido dos males o menor, face ao congelamento que mesmo a mais bem-intencionada
das grandes mentes poderia trazer se vivesse muito mais tempo.
Vitória, terça-feira,
05 de agosto de 2003.
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