O Golpe Português
Dom João III, o Piedoso (1502 a 1557),
rei de Portugal desde 1521 seguiu, segundo a Mirador, tomo 17, p. 9.183, “a
política de consórcios dinásticos, orientação que provinha de Dom João II e
visava a unir sob a mesma coroa os dois Estados ibéricos e que terá seu
desfecho em 1581, quando Filipe II de Espanha é aclamado rei de Portugal”.
Filipe II (1527 a 1598) tornou-se rei
da Espanha, dos Países Baixos, ou Holanda, de Milão, da Sicília, da Sardenha,
de Nápoles e do Franco-condado, e então, em 1580, de Portugal e porisso seu
império dava realmente volta ao mundo, em quase todas as longitudes. Dom João
II, foi chamado Príncipe Perfeito (1455 a 1495). Entre Dom João II e Dom João
III houve Dom Manuel I.
Olhe só o que é a ironia.
Dom João II pretendia casar um dos
príncipes portugueses com uma princesa espanhola e assim apoderar-se do trono
da Espanha, tornando os Avis reis de toda a Península Ibérica (isso
significaria posteriormente apossar-se de quase todas as Américas - nessa época
o continente havia sido recém-descoberto por Colombo, em 1492, lembre-se, pouco
antes da morte de Dom João II). Quando Dom João III recomeçou a trama, tendo
sido empossado em 1521, como vimos, tanto a América do Norte quanto o Brasil já
tinham sido descobertos e tinha-se firme idéia, especialmente desde Hernán
Cortés (espanhol, 1485 a 1547, conquistador do império asteca em 1521) e
Francisco Pizarro (espanhol, 1475 a 1541, conquistador do Peru em 1533) de suas
dimensões. Portugal havia descoberto o caminho marítimo das Índias, Fernão de
Magalhães (português, 1480 a 1521) e Sebastião de Elcano haviam circunavegado o
mundo (na verdade Magalhães chegou apenas até as Filipinas; quem terminou a
viagem foi Sebastião de Elcano, que nunca é lembrado) por volta de 1520/3.
Eles já tinham uma idéia bem segura
das dimensões do planeta e das terras conquistadas. Sabiam que eram imensas.
Dom João III tomou posse em 1521, aos
19 anos, e continuou a política de Dom João II. Quando morreu acabou por ocupar
o trono Dom Sebastião, o Desejado (1554 a 1578, apenas 24 anos entre datas,
chegou ao trono com 14 anos – desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, na
intenção de conquistar o Marrocos), neto de Dom João III, que deixou o trono
sem herdeiro, razão pela qual o tio, cardeal Dom Henrique (1512 a 1580), já
velho de 76 anos, assumiu o trono e convidou os pretendentes a ele. Nisso vem
não um príncipe português casado com uma princesa espanhola mas o já rei da
Espanha, Filipe II, que por acaso era filho da infanta Dona Isabel (1503 a
1539) e através dela neto de Dom Manuel I, o Venturoso (1469 a 1521).
Em 1556, com a abdicação de Carlos V,
ele se tornou rei da Espanha e por extensão de todos aqueles domínios citados.
Tinha então 29 anos, estava no auge da força. Em 1580 já estava no trono espanhol,
o maior poder mundial, há 24 anos, tendo então 53 anos. Como diz o povo, “foi
um abraço”. Filho da infanta, neto do rei de Portugal, rei de vastos domínios,
apoderou-se de Portugal também.
O tiro saiu pela culatra.
O que era originalmente conspiração
para Portugal tomar a Espanha virou o contrário e a Espanha acrescentou
Portugal a seus domínios (Brasil, África, Ásia) de 1580 a 1640, 60 anos da
chamada Dinastia Filipina.
Porém, agora o que era para ser ruim
tornou-se bom, porque o Tratado de Tordesilhas, que separava as possessões
portuguesas das espanholas a 370 léguas (cada légua marítima vale a vigésima
parte do grau do círculo máximo da Terra ou três milhas ou 5,566 km; daí cerca
de 2.056 km) das ilhas de Cabo Verde, portanto entre 48 e 49 graus a oeste das
ilhas, deixou de valer na prática, já que os dois reinos estavam unidos.
O Tratado colocaria mais da metade do
Brasil de fora.
A fusão das duas coroas, não havendo
mais interesse em separação e guerra, permitiu que os bandeirantes avançassem
na porção espanhola, tornando-a quase toda brasileira, o que foi acrescido por
compras e tratados depois.
Assim, a conspiração portuguesa
resultou num primeiro momento em dano e num segundo em vantagem, quando já não
se pensava nisso. Veja o que é a dialética, em que se querendo uma coisa
consegue-se outra, até o contrário. Quantas vezes isso terá acontecido na
geo-história?
Vitória, terça-feira, 07 de outubro de
2003.
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