Esquecida Carmem
Maria do Carmo
Miranda da Cunha é de Marco de Canaveses, Portugal (1909 a 1955, apenas 46 anos
entre datas, para uma fama imorredoura), tendo mudado criança para o Brasil, foi
para os EUA em 1939. Em somente 16 anos fez-se notar no que é não só o país
mais rico como também o mais diversificado e exigente quanto a novidades dos
pretendentes.
Não é fácil ser
apelidada de “the Brazilian bombshell” (“bombshell” significa “2. Coisa (ou
pessoa) atordoante, surpreendente, devastadora”). Muito sabiamente ele
conservou o sotaque, fazendo-se passar por boba, e para se destacar diante dos
outros passou a carregar na cabeça enfeites cada vez maiores com flores e
frutos tropicais, chegando a ser enormes mesmo. Nos enfeites propagou as
frutas, que foram depois largamente consumidas. Não se envergonhava da terra
adotiva, pelo contrário, procurou divulgá-la. Tanto o povo daqui quanto o de lá
a amavam e no seu enterro no Brasil milhares foram vê-la.
Não obstante, não
vejo documentários brasileiros sobre ela, nem biografias, nem coletânea dos
filmes, nem reedição das músicas, não vejo e não ouço nenhum agradecimento
deste país mesquinho e envergonhado de si. Não há por aqui dedicação aos
heróis, que se adiantaram para proporcionar divertimentos ou novos
conhecimentos ou de qualquer modo buscar a libertação popular. Mais destacam os
torturadores do período da ditadura militar que os torturados. Quem ouve falar
de Manuel Fiel Filho, o operário que foi torturado e morto, ou de Vladimir
Herzog, jornalista enforcado na prisão?
No Guia Nova Cultural de Vídeo de 1997 não
consta nenhum filme com o nome dela, nem brasileiro nem estrangeiro.
Que devemos pensar
de um país assim, que não fala de seu povo, suas lideranças, seus
profissionais, seus pesquisadores, seus estadistas, seus santos e sábios, sua
iluminada (Clarice Lispector)? Nem de seus artistas, enquanto investigação mais
profunda. Fica tudo ao nível do folhetim.
Vitória,
segunda-feira, 13 de outubro de 2003.
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