quinta-feira, 23 de março de 2017


Dívida do Coração

 

                            Clint Eastwood fez um filme recente, Dívida de Sangue, em que atuou e o qual dirigiu. É sobre perseguição policial a assassino serial, que é atingido, no processo o policial que o persegue, CE, sofrendo um enfarto. O assassino mata pessoas até que o tipo raro de sangue AB (na proporção de 1/200) proporcione um coração que não seja motivo de rejeição do policial. Depois de esperar quase dois anos ele finalmente recebe o coração e dentro de 60 dias já está correndo, subindo escadas, comendo rosquinhas doces, transando com a moça 30 anos mais nova e fazendo outras travessuras.

                            O que nós sabemos é que 500 mil - 900 mil realizam cateterismos – fazem operação do coração por ano nos EUA, 1/600 (na Califórnia, estado mais rico, 1/60) do total. O caso é que apenas em 1967 Christiaan Barnard (médico sul-africano, 1922 -) realizou o primeiro transplante, no Brasil tendo sido Euríclides de Jesus Zerbini (paulista, 1912 a 1993) logo em 1968 o primeiro a fazê-lo. Em menos de 40 anos tornou-se corriqueiro, trivial.

                            E as operações cardíacas, que no Brasil se faziam há 25 anos ou mais, tornaram-se ainda mais comuns (fizeram em mim e em SO, um dos nossos amigos, e fazem em outros 300 mil brasileiros por ano; a proporção de americanos/brasileiros é de 1,66, enquanto que o de safenados é de SA/SB = 1,67, quase precisamente a mesma – a confirmar informações – embora eles sejam incomparavelmente mais ricos que nós).

                            Claro, há uma dívida de sangue, uma dívida de coração dos que fizeram a operação, porque a sobrevida média é de 22 anos (365,25 x 22, mais de oito mil dias de susto), mas há também o incrível índice, que é apontamento inquestionado, ao que sei: ninguém pergunta PORQUE (condições científicas: físicas/químicas, biológicas/p.2, psicológicas/p.3) os seres humanos estamos sendo empurrados tão maciçamente para as doenças e porque tantos, tendo facilidades, mergulham nas soluções que são agora as triviais, ou seja, porque não é feito esforço no sentido de evitar a condição de doença, a condição cardíaca.

                            Como eu disse no texto Duas Revoluções (Livro 36), talvez caminhos mais baratos (e populares) devessem ser trilhados. O fato de os californianos fazerem DEZ VEZES tantas operações quanto a média americana nos mostra como as facilidades podem nos empurrar para o coração da dívida.
                            Vitória, quinta-feira, 09 de outubro de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário