Diretor, Professor de
Cinema
Quando eu era jovem,
pouco mais que adolescente, há 30 anos a gente mirava os filmes olhando os diretores
e não os atores e atrizes, que hoje vendem as produções. Agora os diretores
pouco contam, estão mais ou menos à margem do caminho, como se na classe de
aprendizado contassem os alunos e não o mestre. Estranha inversão, como em
quase tudo.
Claro que o
cinegrafista, o continuísta, todos que trabalham no filme estão ensinando e
aprendendo – cada filme é por si mesmo uma escola de cinema e como tal deve ser
visto, mas o principal é o professor e não os serventes.
Quando é que os
alunos se tornaram mais importante que o mestre e a escola? É o diretor que diz
quando e onde (espaçotempo), quem (figuras ou psicanálises), como (organização
ou sociologia), por quê (objetivos ou psico-sínteses) e com quê (produção ou
economia) deve ser feito – a partir do roteiro, que o escritor disponibilizou,
seja como livro, seja como script pronto. Ele diz quanto deve ser cortado do
iceberg para a parte de cima ser vista pelo público. O diretor é como o pintor,
o cérebro sentimental e racional que pinta, enquanto a indústria
cinematográfica e a propaganda são como a moldura e os artistas como a tela e
as tintas. Claro que tudo é necessário, mas se não houver o agente que mistura
as tintas e sabe onde colocá-las para produzir os efeitos desejados, teremos
apenas coisas paradas ou pinturas bem horríveis ao acaso.
Porém, em algum
momento houve uma inversão notável, uma subversão completa de valores, de tal
modo que o superficial se tornou profundo e o interior deixou de valer. Tal
como a coletividade que representa, o Cinema se tornou uma tintura, uma
pincelada de exteriores, de plumas e paetês que escondem a profundidade do ser.
Ficou pobre, miserável. Embora deva continuar sendo diversão, primordialmente,
não precisa ser assim tão roscofe.
Já não há observação
dos detalhes das pinturas, da potência expressiva da direção, da fineza. É como
servir champanhes raríssimas e antigas em festas baratas de estudantes. É, como
disse Jesus, servir pérolas a porcos: só um lado é que sabe apreciar o valor.
Os porcos vão pensar, como pensam, que são porcarias.
Vitória,
quinta-feira, 31 de julho de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário