Até os Grandes
Caem...
Desde quando fez há
uns 30 anos Um Estranho no Ninho (no
original americano One Flew Over the
Cuckoo’s, 1975, EUA) quatro estrelas no guia Vídeo 1997, da Nova Cultural, direção de Milos Forman, Jack
Nicholson é tido como um grande ator por todos, inclusive eu.
Recentemente (2001)
ele participou do desastrado A Promessa,
com Benicio Del Toro, Robin Wright Penn (esposa de Sean Penn, que é o diretor),
Vanessa Redgrave e Sam Shepard, grandes artistas (menos a Robin, que é
medíocre). O filme dura insuportáveis 123 minutos e termina melancolicamente,
com o personagem de JN enlouquecendo no final, doidamente brandindo os punhos,
todo sujo e roto, porque falha em prender o criminoso, que por acaso morre
queimado em acidente de carro antes de chegar ao local onde seria pego. Nunca
vi Nicholson em situação tão patética. Eis aí a diferença entre um grande
diretor, como Milos Forman, e um banal como Sean Penn, agora dedicado a louvar
os “filmes independentes”, na trilha da zombaria dos grandes estúdios. Está
bem, estes fazem filmes comerciais, pois se trata de uma indústria em atacado
vendendo para o varejo cinematográfico, com as pontas sendo os cinemas do mundo
inteiro - mas pelo menos as produções são cuidadas.
Os grandes também
tropeçam e tombam.
Fizeram um filme
vários atores muito bons, creio que O
Príncipe do Central Park, que me recusei a continuar vendo, embora eu faça quase
sempre esforço para ir até o final, porque sou realmente aficcionado. Há uns
intragáveis, em que a gente fica com vergonha do diretor e dos atores e
atrizes, além dos demais profissionais.
Lá por 1975 dirigi
uma peça universitária na qual ao final o público deveria se levantar e
reconstruir Guernica (a cidade espanhola, destruída por bombas na Guerra Civil
de 1936, peça de mesmo nome de Arrabal; a apresentação também teria um quadro
não conseguido de Pablo Picasso atrás, para mostrar que a destruição não era
apenas física, era distorção também da alma). Como não conseguimos convencer
bastante gente a fazer o gesto desistimos na ideia, mas no final um nosso amigo
RLB, que é baixote e gorducho, ficou sentado com as perninhas balançando um tempão,
nós chamando-o e ele, teimosa e inutilmente, enfrentando o público. Bateu um
desespero horroroso, de que me lembro perfeitamente, passados quase trinta
anos. É isso que a gente sente quando há um final inconcluso, como o de
Nicholson fazendo papel de bobo no filme burro de Sean Penn.
Vitória,
segunda-feira, 13 de outubro de 2003.
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