terça-feira, 21 de fevereiro de 2017


Um País Vigilante

 

                            Nos postos fiscais a gente vê os caminhões acompanhados de automóveis, em geral Fiat, no qual vão os guardas, por vezes um carro na frente e outro atrás, no caso de grandes cargas. Há também a vigilância por satélite. Nelson Piquet, o bicampeão de Fórmula 1, dizem, tem uma empresa dessas, de monitoramento remoto. Os caminhões têm acima da cabine um transmissor-receptor que está ligado ao motor e que acusa qualquer parada mais longa. Caso não seja dada alguma explicação o aparelho desliga o motor, que só pode ser religado pelo satélite, nunca pelo motorista.

                            Todo tipo de vigilância é exercido. Se os EUA são, como disse uma personagem de série de firma de advogados, uma “sociedade litigiosa”, o Brasil é uma “sociedade vigilante”, no pior sentido, o que denuncia o medo geral. Fora as grades, as armas, há essa vigilância contínua, de tudo mesmo, pois os assaltos são constantes nas estradas, menos no Sudeste e mais no Nordeste. Os motoristas vivem apavorados. E lá vão milhares, centenas de milhares de guardas, verdadeiro exército civil, como já disse num dos textos do modelo ou das posteridades, não me lembro.

                            As cidades e as estradas são tão inseguras agora quanto o foram na Idade Média, ou talvez mais, pelo menos no Terceiro e Quarto Mundo. Talvez neles vivamos numa espécie de idade média, como que em tempos primitivos. Os governos nada fazem e as empresas se defendem como podem. Talvez os guardas sejam conluiados com os bandidos, não se sabe. O que resta é o fato, não retratado estatisticamente pela imprensa, nem estudado a fundo pela Academia, aquelas universidades adormecidas. Não há quem exponha a chaga da geral insegurança dos brasileiros.

                            Vitória, quinta-feira, 22 de maio de 2003.

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