Ruptura e o Mundo
Angélico
De acordo com a Rede
Cognata modelo = RUPTURA = ESTUDO = MOLDE = MORTE = RASTRO = RAPTO, muitas
coisas. Uma dessas diz que existe uma ruptura, um rompimento, um largo fosso
entre uma e outra banda, um e outro lado do precipício, entre o agoraqui e o
depois.
De dentro eu posso
saber, porque me lembro do que escrevi, e da importância daquilo, sem qualquer
gênero de orgulho, até com um pouco de aborrecimento por não ter sido outro, ao
qual eu aplaudiria frenética e duplamente, primeiro por ter sido feito e
segundo por ter me poupado o sofrimento.
De dentro eu sei
muito bem, sem modéstia alguma.
De fora as pessoas
em geral não percebem, nem remotamente, menos umas poucas, com as quais falei
ou que tiveram o interesse de ler os textos que passei. Foram poucas, foram
críticas, foram destrutivas.
Então, para começar
o diálogo, há um fosso, assumido como útil, mesmo se por acaso, totalmente
contra a minha vontade original, houver comoção de qualquer e todo gênero. Isso
não era desejável, embora em si mesmo distúrbios sejam levados à conta do
inevitável. Não deveria ser inevitável, deveria ter sido evitado, e teria sido
se eu tivesse sido mais competente e as pessoas mais amorosas.
Agora, tal fosso nos
coloca o quê?
De um lado, do lado
de cá, ANTES DE TER ACONTECIDO, o assombro de estar diante da possibilidade,
sem saber exatamente o módulo ou dimensão de sua potência, se é meramente um
soluço cósmico ou um grande grito. Do lado de lá, o olhar para trás e pensar
como vivíamos sem o controle remoto, o computador, a pasta e a escova de
dentes, o que é condescendência de civilizado.
Mas, em todo caso,
há o fosso, há esse rompimento, esse não reconhecer o que era antes, o susto de
ter vivido daquele modo, como pensaríamos agora o que teria sido viver no mundo
pagão, sacana, sem respeito à civilidade DOS OUTROS, pois a nossa está sempre
implícita – isto é, os outros é que são criticáveis e impedem a aproximação.
Há,
sem dúvida alguma, na proposta da Rede Cognata (veja Livro 2, Rede e Grade Signalíticas), isso do
salto, da transposição, o choque da passagem, os ritos de multiplicação de algo
e de negação dos elementos mais antigos. Do lado de cá o mundo infernal, do
lado de lá o mundo angélico, não parecendo possível que de um derive o outro,
mas isso sendo inteiramente verdadeiro. Como é que anjos podem descender de
demônios? Só podemos entender que uns estão dentro de outros, bastando tirar a
capa infernal, que é o que o modelo pirâmide fará, segundo penso.
Como utilidade,
podemos ter tanto o processo como o PRÉ-ANÚNCIO DO PROCESSO, o que é deveras
vantajoso, desde que a gente possa olhar o que vai acontecer, preparando os
instrumentos do olhar, de modo a registrar as passagens com o máximo de
utilidade para os futuros estudiosos. Essa preparação também é uma ruptura, o
anúncio dos acontecimentos antes deles serem fatos.
Vitória,
terça-feira, 13 de maio de 2003.
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