Richard Tarnas
Peguei muitos
títulos dele, vou comentar alguns.
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DEUS RENOVADO (p. 146): “Morrer com Cristo era
ascender com Ele para a nova vida do Reino. Cristo era aqui interpretado como
um ponto de perpétua inovação, um ilimitado renascer da luz divina no mundo e
na alma. Sua crucificação representava a dor do nascimento de uma nova
Humanidade e um novo Cosmo. Uma divina transfiguração se iniciara no Homem e na
Natureza com a redenção de Cristo, aqui visto como um evento cósmico que
afetava todo o Universo”. É a inserção na linha de decadência de um ponto a
partir do qual há uma inflexão, um retorno para cima, uma perpétua renovação =
INOVAÇÃO. A humanidade vai ALÉM-DA-FIGURA, trans-figura, passa a forma e se
torna conteúdo (= CRISTO), verdadeiro Cristo, autêntica conceituadora, criadora
de realidade.
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GLÓRIA INCONCEBÍVEL (p.146): “Através de Cristo, aquela
separação primordial estava sendo curada e a perfeição da criação restaurada em
outro nível mais abrangente. A fragilidade humana tornava-se assim um momento
da força divina. Somente a partir da sensação de derrota e finitude, o Homem
poderia abrir-se espontaneamente para Deus; somente com a queda do Homem, Ele
podia revelar plenamente sua glória inconcebível e seu amor, corrigindo o
incorrigível”. Observe que se trata de corrigir o incorrigível, o que não pode
ser corrigido por nenhum racional, nem pelos anjos, nem pelos semideuses, pois
desde qualquer um até o não-finito onde Deus se encontra na Tela Final vai
sempre uma distância infinita, mesmo do mais alto. Ora, a Queda vem da
desconfiança do ser humano em Deus, da tentativa de ocultamento, o que levou à
derrota e à consciência de finitude, ou seja, de que não será possível achar
por si mesmo o caminho. Já esperada essa fragilidade, Cristo é enviado, Deus,
parte de Deus, projeção de Deus dentro da Criação, digamos assim. Desse jeito o
ser humano olha e vê, estarrecido, a glória de Deus como inconcebível, que não
pode ser concebida – contudo, vê os rastros dela.
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OS PRÊMIOS DA IRA DIVINA (p. 146): “Agora, até a aparente ira
divina podia ser compreendida como elemento necessário em sua infinita
benevolência e o sofrimento humano, como o prelúdio necessário para a
felicidade ilimitada”. Veja que coisa mais interessante, a Ira Divina (em
maiúsculas conjunto ou grupo ou família de iras divinas, toda uma sucessão) se
manifestar como conserto, como reparo, e como prêmio. Em geral a ira humana
significa para o objeto da ira castigo e dor, porém não com Deus, é exatamente
o contrário, o resultado dela é a felicidade ilimitada, pois Deus considera não
apenas o contrário, mas até o contrário do contrário.
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A HORA MAIS TENEBROSA (p. 147): ”Podia-se ter absoluta
confiança no Todo-Poderoso e abandonar toda a ansiedade pelo futuro para viver
com a simplicidade dos ‘lírios do campo’. Assim como a semente oculta trazida
da fria sombra do inverno florescia na cálida luz da vida na primavera, mesmo
na hora mais tenebrosa a misteriosa sabedoria de Deus elaborava seu plano
sublime”. Repare que a Fé é essa confiança, sem prova alguma, pelo simples
desejo manifesto do coração, um alinhamento do que crê com Deus. Fé total,
confiança total de que nas horas tenebrosas o socorro virá, bastando confiar,
sem prova racional alguma. Essa é a única prova exigida. Mas quem não se prova
pode seguir sozinho (as confusões que isso proporcionam não estão no gibi).
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A CONVERGÊNCIA DO PLANO DE DEUS (p.147): “Todo o drama vigente da
Criação à Segunda Vinda poderia ser agora reconhecido como sublime produto do
plano divino, descobrimento do Logos. Cristo era o começo e o fim da Criação, o
‘alfa e o ômega’, sua sabedoria original e sua consumação final. O que estivera
oculto se manifestara. Em Cristo, o significado do Cosmo estava realizado e
revelado. Tudo isto era celebrado pelos primeiros cristãos em metáfora
arrebatada: com a encarnação de Cristo, o Logos voltara ao mundo e criara uma
canção celestial, sintonizando as discordâncias do Universo em harmonia
perfeita, ressoando o gozo da união cósmica entre o céu e a terra, Deus e a
Humanidade”. Veja no Livro 2, no artigo Rede
e Grade Signalíticas, que podemos fazer as conversões: Logos = DEUS (tanto
L sendo consoante quanto pseudoconsoante), harmonia perfeita = PRIMEIRA
PIRÂMIDE, canção celestial = COMPOSISÃO CENTRAL (ou CRIAÇÃO GRANDE), “o Logos
voltara ao mundo” = O DEUS CRIARA O MODELO.
Observe que Tarnas possibilita muitas
reflexões majestosas, especialmente a partir do modelo que criei. Há algumas
pessoas especialmente produtivas, que vão longe e que permitem ir longe. Embora
não sejam os maiores filósofos, chegam perto da grandeza, e até vão além deles,
desde quando os grandes são muito herméticos e não podem ser lidos pelo povo,
nem sequer pela maioria quase total das elites. Só um resíduo pode lê-los, ao
passo que gente como Tarnas permite a ascensão de tantos, o que agradeço muito.
Vitória, quinta-feira, 15 de maio de
2003.
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