quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017


Ortodoxia da Memória

 

                            A memória não inventa nada, ela é o já consagrado, o fixo, o determinado, aquilo que não muda, o determinado fixamente como velhas inteligências, ao passo que a inteligência é a presença das novas memórias, a reinvenção do mundo. Quando Einstein estava inventando, lá por 1905 (vai fazer 100 anos em 2005, não esquecer de comemorar), eram inteligências, coisas novíssimas, que empolgavam as pessoas; agora são coisas velhas, que amarram âncoras no barco da civilização e o impedem de ir se aventurar longe do porto.

                            Quando o cirurgião Joseph Lister (Reino Unido, 1827 a 1912, 85 anos entre datas) estavam introduzindo as medidas anti-sépticas na cirurgia lá por 1865 aquilo era novidade, mas agora é ortodoxia e como tal obstaculiza ou dificulta o pensar, porque tornou-se centro ou alvo de um sistema de pensamento e para mudar é preciso refletir sobre o heterodoxo, é PRECISO PENSAR, é necessário desviar daquilo que já é sabido, é fundamental adotar nova postura.

                            Quando você vai a uma biblioteca, lá está a resistência do ser humano no passado, como ele enfrentou e resolveu problemas – merece aplausos, mas está morto. Embora ainda sirva para civilizações mais atrasadas (e, lembre-se, cada um que estuda está SE CIVILIZANDO DOS ATRASOS), para todas as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e todos os AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundos) mais atrasados, não serve para o futuro ALÉM DO PRIMEIRO MUNDO, só para o futuro aquém dele, ou seja, para o segundo, o terceiro e o quarto mundos.

                            O que o primeiro mundo JÁ PENSOU é adiantado para os que vêm de trás, mas não para o próprio primeiro mundo – para este é apenas a linha de frente do trem de ondas de mudanças da tecnociência e do Conhecimento inteiro.

Assim sendo, quando os militares entraram no Brasil em 1964 (até 1985) para ocupar o trono, trataram de criar de tempos em tempos novas faces para as moedas, juntando à necessidade do corte de zeros um empurrãozinho de esperteza sociológica. Procuraram sempre dar notícias novas, querendo dizer que as idéias estavam pulsando e conduzindo o país. Só que eram idéias velhas, de fora. Entrementes, mesmo sendo velhas, PARECIAM NOVAS, e deram resultado. Veja então que mesmo ortodoxias requentadas conseguem enganar os atrasados.

                            Vitória, segunda-feira, 02 de junho de 2003.

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