Difícil Caminhar
Desde quando comprei
o primeiro computador que ficou nas minhas mãos, depois do primeiro de Clara e
Gabriel (um 486 que custou absurdos R$ 4.040 – então o mesmo tanto de dólares –
e deu defeito logo em seguida), já tivemos seis, um que é este onde escrevo, um
que é o atual da Clara, um que foi dado a André e três que deram defeito ou
foram pirateados pelos consertadores.
Em particular, esse
primeiro meu foi consertado DEZOITO vezes (cada conserto a R$ 50, no total uns
900 dólares), cada uma das vezes significando a introdução das enciclopédias
todas de novo, com um cansaço incrível da repetição. A gente não se incomoda de
trabalhar, é fazer sempre as mesmas tarefas que enjoa.
E é isso que precisa
ser pesquisado e exposto: quantas vezes a mais o terceiro e quarto mundos são
obrigados a cumprir as mesmas cargas de trabalho, antes de obter algum produto
útil, em razão de máquinas ou programas defeituosos, por exemplo, “adaptados às
condições brasileiras”, ou seja, de superexploração.
No mínimo é
vergonhoso.
Encarnar nos EUA, na
Suíça, no Japão, em Luxemburgo é fácil, agora, depois que as coisas estão
relativamente prontas, ao passo que fazê-lo por aqui é complicado. É como as
mulheres que sobressaem, devendo trabalhar em dobro, ou os negros, que devem
ralar pra caramba antes de conseguir colocar a cara de fora, ao Sol da criação.
Do
mesmo modo nós, da América Latina, ou Latrina, como gosto de dizer, a América
podre, “dificultosa”, como diz o povo. América espinhosa, caminho complicado de
pisar. Tudo deve ser feito com muito jeitinho, muito compassadamente, com
extremo cuidado e atenção. Não é fácil prosseguir.
Nos EUA um carro é
comprado com 1/3 do salário de um ano, ao passo que aqui dependemos de oito
anos, proporção desfavorável de 24/1. Do mesmo modo máquinas e programas, de
modo que não admira mesmo nada que eles produzam mais, para não falar dos
impedimentos sociais, da descrença, dos choques com todo tipo de má-vontade
governempresarial.
Enfim, é um
verdadeiro milagre que consigamos fazer qualquer coisa de útil para o mundo.
Vitória, domingo, 25
de maio de 2003.
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