De Madrugada
Certa vez fomos
vários amigos ao Rio de Janeiro, capitaneados por GHB e PACOS. Ao atravessar de
madrugada de Niterói para lá vi no cais das barcas muita gente arrumando as
barracas da feira e os peixes para venda de manhãzinha. Depois o mesmo se deu
na Praça 15, no Rio, o que me marcou profundamente para sempre, porque eu
acordava como estudante sempre às seis, para chegar à escola antes das sete
(apenas no ES, segundo GHB, é que é assim – nos demais estados as aulas começam
às oito). Meus irmãos mais velhos acordavam às vezes às 10 ou 11, o que eu
achava incompreensível, até mais tarde fazer a mesma coisa.
Pensei em todos que
de madrugada acordam para fazer o país começar a funcionar, para ao acordarmos
os das elites tudo estar posto na mesa, ou ao almoço termos o que comer de
fresquinho.
Nunca vi em nenhum
lugar qualquer agradecimento, sem sequer de passagem como representação num
filme. Muitas vezes nas coisas mais simples a vida humana assume as dimensões
mais extraordinárias e esse fenômeno, tanto particular quanto coletivo, passa
longe da representação intelectual, sempre voltada para o próprio umbigo.
Que desperdício é a
vida desses intelectuais, sempre em tão profundos raciocínios que sequer tocam
a superfície do real. É de lastimar, mesmo, é um dos fenômenos mais frustrantes
da existência da humanidade.
Vitória, sábado, 31
de maio de 2003.
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