quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017


De Madrugada

 

                            Certa vez fomos vários amigos ao Rio de Janeiro, capitaneados por GHB e PACOS. Ao atravessar de madrugada de Niterói para lá vi no cais das barcas muita gente arrumando as barracas da feira e os peixes para venda de manhãzinha. Depois o mesmo se deu na Praça 15, no Rio, o que me marcou profundamente para sempre, porque eu acordava como estudante sempre às seis, para chegar à escola antes das sete (apenas no ES, segundo GHB, é que é assim – nos demais estados as aulas começam às oito). Meus irmãos mais velhos acordavam às vezes às 10 ou 11, o que eu achava incompreensível, até mais tarde fazer a mesma coisa.

                            Pensei em todos que de madrugada acordam para fazer o país começar a funcionar, para ao acordarmos os das elites tudo estar posto na mesa, ou ao almoço termos o que comer de fresquinho.

                            Nunca vi em nenhum lugar qualquer agradecimento, sem sequer de passagem como representação num filme. Muitas vezes nas coisas mais simples a vida humana assume as dimensões mais extraordinárias e esse fenômeno, tanto particular quanto coletivo, passa longe da representação intelectual, sempre voltada para o próprio umbigo.

                            Que desperdício é a vida desses intelectuais, sempre em tão profundos raciocínios que sequer tocam a superfície do real. É de lastimar, mesmo, é um dos fenômenos mais frustrantes da existência da humanidade.

                            Vitória, sábado, 31 de maio de 2003.

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