sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


Super-Homem

 

                            É claro que eu sei do modelo que o super-homem é, crescentemente, entre as pessoas a família, o grupo e a empresa, e entre os ambientes o município/cidade, o estado, a nação e o mundo. Entrementes, quero aqui contribuir, se possível, para a renovação do personagem das revistas em quadrinhos.

                            Se ele é super-homem, é super em tudo, portanto, é super em mente e em corpo, em corpomente. É super, para baixo, em órgãos, em células, em replicadores. Como serão seus super-replicadores (o ADRN é o principal, mas não o único), como eles replicam, como eles operam? Como serão suas supermitocôndrias, seus supercomplexos de Golgi, seus superlisossomos, seus super-ribossomos? Como seus superórgãos fazem para torná-lo super?

                            Como ele trabalha a Bandeira Elementar (superar, superágua, superterra/supersolo, superfogo/superenergia e no centro a superVida, no centro do centro a superVida-racional)? Quanto ar deve respirar – quantos litros por segundo? Como lida com a luz do Sol? Como é que, sendo o Sol daqui amarelo e a estrela de lá, não sei, vermelha, ele adquiriu seus poderes?

                            Sendo a inteligência estrutural, é claro que sua mente não se desenvolveu quando meramente foi transplantada de Krypton para a Terra, quando bebê; porém, pode ser que os superpoderes corporais induzam superpoderes mentais, uma capacidade extraordinária de pensar com rapidez e grande focagem conceitual. De fato, numa rara vez uma das revistas mostrou um super-homem recolhido e solitário, magoado, vivendo num celeiro, vendo 500 canais de TV ao mesmo tempo.

                            E os conflitos mentais? Supereuforias e superdepressões. Superamores e superódios. Todo um super-dicionarienciclopédico. A Psicologia do SH não foi investigada. E as relações familiares dele? Como ele se relaciona com o grupo? Mirian Lane e o Jimmy, mais o diretor do jornal são os únicos com os quais ele convive realmente. O SH não bebe, não fuma, não sofre, não tem crises de consciência, não deseja usar os superpoderes para castigar os outros? Não é angustiado, não é irritável, não tem nele o que é humano?

                            Penso que tremendas transformações viriam dessas investigações mais profundas. Os personagens de revistas em quadrinhos não precisam findar agora PORQUE, como alguém disse, eles são os substitutos dos deuses, nestes tempos de relativa ausência religiosa, de des-deificação.

                            Essa humanização do SH é equivalente à humanidade que o Peter Parker, do Homem Aranha, sempre teve, e que sempre encantou os leitores. Isso o SH pode ter não em doses homeopáticas, mas em enxurrada mesmo, aos borbotões.

                            E todos os personagens podem ter isso.

                            É do que precisamos para passar uma hora por dia lendo algo que tenha ao mesmo tempo valor formal (dos desenhos, das cores, das palavras) e valor conceitual (das estruturas que sustentam o personagem e seu cenário, que são todas as coisas em volta – pessoas e ambientes). Assim, é preciso que existam grupos desenhando os contornos, cada detalhe.

                            Ao fazer uma nova série, se forem eles ou nós, é fundamental criar esses grupos, essas células de criação devem perseguir a total consistência do arquétipo, para todas as variáveis do modelo. Centenas de pessoas criando. Há que preparar a socioeconomia da produção cinematográfica para dar sustentação a esse super-grupo, tendo em vista que se tornará um sucesso indubitável, por ser tão parecido com a vida humana, principalmente se não for derrotista ou pessimista, autodestrutivo como os filmes japoneses.

                            Em resumo, o SH não só não morreu como tem um futuro brilhante pela frente. Um futuro de grandes, de altos vôos.

                            Vitória, domingo, 18 de agosto de 2002.

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