Super-Homem
É
claro que eu sei do modelo que o super-homem é, crescentemente, entre as
pessoas a família, o grupo e a empresa, e entre os ambientes o
município/cidade, o estado, a nação e o mundo. Entrementes, quero aqui
contribuir, se possível, para a renovação do personagem das revistas em
quadrinhos.
Se
ele é super-homem, é super em tudo, portanto, é super em mente e em corpo, em
corpomente. É super, para baixo, em órgãos, em células, em replicadores. Como serão
seus super-replicadores (o ADRN é o principal, mas não o único), como eles
replicam, como eles operam? Como serão suas supermitocôndrias, seus supercomplexos
de Golgi, seus superlisossomos, seus super-ribossomos? Como seus superórgãos
fazem para torná-lo super?
Como
ele trabalha a Bandeira Elementar (superar, superágua, superterra/supersolo,
superfogo/superenergia e no centro a superVida, no centro do centro a superVida-racional)?
Quanto ar deve respirar – quantos litros por segundo? Como lida com a luz do
Sol? Como é que, sendo o Sol daqui amarelo e a estrela de lá, não sei,
vermelha, ele adquiriu seus poderes?
Sendo
a inteligência estrutural, é claro que sua mente não se desenvolveu quando
meramente foi transplantada de Krypton para a Terra, quando bebê; porém, pode
ser que os superpoderes corporais induzam superpoderes mentais, uma capacidade
extraordinária de pensar com rapidez e grande focagem conceitual. De fato, numa
rara vez uma das revistas mostrou um super-homem recolhido e solitário,
magoado, vivendo num celeiro, vendo 500 canais de TV ao mesmo tempo.
E
os conflitos mentais? Supereuforias e superdepressões. Superamores e
superódios. Todo um super-dicionarienciclopédico. A Psicologia do SH não foi
investigada. E as relações familiares dele? Como ele se relaciona com o grupo?
Mirian Lane e o Jimmy, mais o diretor do jornal são os únicos com os quais ele
convive realmente. O SH não bebe, não fuma, não sofre, não tem crises de
consciência, não deseja usar os superpoderes para castigar os outros? Não é
angustiado, não é irritável, não tem nele o que é humano?
Penso
que tremendas transformações viriam dessas investigações mais profundas. Os
personagens de revistas em quadrinhos não precisam findar agora PORQUE, como
alguém disse, eles são os substitutos dos deuses, nestes tempos de relativa
ausência religiosa, de des-deificação.
Essa
humanização do SH é equivalente à humanidade que o Peter Parker, do Homem
Aranha, sempre teve, e que sempre encantou os leitores. Isso o SH pode ter não
em doses homeopáticas, mas em enxurrada mesmo, aos borbotões.
E
todos os personagens podem ter isso.
É
do que precisamos para passar uma hora por dia lendo algo que tenha ao mesmo
tempo valor formal (dos desenhos, das cores, das palavras) e valor conceitual
(das estruturas que sustentam o personagem e seu cenário, que são todas as
coisas em volta – pessoas e ambientes). Assim, é preciso que existam grupos
desenhando os contornos, cada detalhe.
Ao
fazer uma nova série, se forem eles ou nós, é fundamental criar esses grupos,
essas células de criação devem perseguir a total consistência do arquétipo,
para todas as variáveis do modelo. Centenas de pessoas criando. Há que preparar
a socioeconomia da produção cinematográfica para dar sustentação a esse
super-grupo, tendo em vista que se tornará um sucesso indubitável, por ser tão
parecido com a vida humana, principalmente se não for derrotista ou pessimista,
autodestrutivo como os filmes japoneses.
Em
resumo, o SH não só não morreu como tem um futuro brilhante pela frente. Um
futuro de grandes, de altos vôos.
Vitória,
domingo, 18 de agosto de 2002.
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