segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Quando Termina um Século?

 

                            Veio aí alguém, não sei que historiador, dizer que o século XX começou em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, e terminou com a queda da URSS, em 1991, sendo um século curto de 77 anos. Empurra a tese pela nossa goela abaixo e temos de engolir forçadamente.

                            Existiria algo assim?

                            Claro, quando a gente pega um punhado de fatos e os destrinchamos, acabam por se acomodar a qualquer tese, assim como a estatística é usada por qualquer candidato para dar respaldo a qualquer visão de mundo. Poderíamos chamar tal “século” de SÉCULO CONCEITUAL, enquanto o outro seria o SÉCULO FORMAL. Acontece que o século formal é, por definição, o período de 100 anos posto num calendário decimal qualquer. É, no dicionário, o espaço de 100 anos, e nada mais, e nada menos.

                            Agora, o século conceitual ou teórico pode ter qualquer quantidade de anos. As pessoas poderiam escolher quaisquer datas, porisso vão existir tantos quantos sejam as escolhas.

                            Logo para começar, portanto, devemos estabelecer vínculo com nossa escolha: de qual século estamos falando? O século de 100 anos, século XX, começou em 1901 e terminou no ano 2000 (mas os anos 1900 evidentemente começaram em 1900, e não em 1901). Vem um camarada aí e para polemizar escolhe esta ou aquela fração, ou até um múltiplo. Qual o significado disso? Não bastaria dizer que as características centrais do século XIX se prolongaram até 1914? Seria tão mais fácil!

                            Em vez disso submetem a humanidade a mais uma pressão intelectual, com exigência suplementar de memória, expandindo as categorias até o cansaço. Devemos pensar na utilidade, se a mudança nos traz verdadeiramente um prêmio que valha a memória extra.

                            Daí podemos falar de TESES DE MEMÓRIA, para as que a expandem, e TESES DE INTELIGÊNCIA, aquelas nas quais só dependemos do pensamento, da razão. Propor o encompridamento das memórias é uma chatice.

                            Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

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