quinta-feira, 22 de dezembro de 2016


Morando Perto do Vulcão

 

                            Pompéia era cidade da Campânia romana, ao pé do Vesúvio, e região de lazer dos abastados, antes de ser soterrada em 79 por lava do vulcão. Vários milhares morreram. Antes, e depois disso, muitos vulcões explodiram em diversas regiões do mundo, matando talvez milhões, ao longo da geo-história. O Vesúvio continua ativo e gente continua morando ao pé dele, o que é bem esquisito. E isso no mundo inteiro, sempre há gente nas encostas.

                            As pessoas não são suicidas, pelo contrário, apegam-se extraordinariamente à vida. Vemos velhos e velhas de mais de 90 anos operando para tentar ganhar uns anos a mais. Então, qual a razão profunda que leva tantas pessoas, e tão repetidamente, após inúmeras catástrofes bem conhecidas, a continuar ali por perto?

                            Vários raciocínios me conduziram à conclusão de que é a própria lava, os metais e minerais que vem do interior quente da Terra. Ora, o que gera a lava, o derretimento desse material composto, é o calor, especialmente o calor gerado no interior da própria Terra, porque o que vem do Sol mal tosta nossas peles, e vem enfraquecendo conforme passam os éons.

                            Então, é muito calor, porque a crosta planetária tem em alguns lugares 64 e em outros apenas um quilômetro de espessura, para um raio de 6.372 km; na parte mais larga tem um centésimo, ou um porcento. Um tremendo calor mantém derretido o interior deste mundo, a ponto de serem os 20 mil graus Celsius do centro temperatura mais elevada que a da “superfície” do Sol, de apenas seis mil graus Celsius (mas a coroa logo acima vai a vários milhões).

                            Esse calor é interno, não externo. Sendo interno só pode vir da radiação, dos elementos radiativos, cuja desintegração constante produz essa imensa carga de calor. Entrementes, devemos agradecer demais ao Sol, PORQUE ao mandar seu calor ele estabelece um equilíbrio termomecânico logo abaixo da superfície.

                            Raciocinei que essa radiatividade toda está presa no interior da Terra, lá mesmo onde não existe crosta, que nos defende do imenso poder dela. Nos continentes, onde a espessura é maior, a defesa é correspondentemente maior, ao passo que nos oceanos, onde as fissuras deixam vazar lava que a água esfria logo em seguida, ela é proporcionalmente maior, na relação de 64/1 entre a maior e a menor defesa. Olhando o mundo inteiro como uma função da espessura do solo, deveríamos encontrar mais gente e animais sofrendo de câncer onde a espessura fosse menor, e vice-versa, menos gente onde fosse maior, por exemplo, no alto de montanhas. Quer dizer, os montanheses devem ser mais isentos de doenças oriundas de radiação.

                            E do mesmo modo quanto a mutações, ao surgimento de novas criaturas, novos vetores biológicos replicativos. Nas fissuras da Cadeia Meso-Atlântica, onde há essa espessura de apenas um quilômetro, e a lava vasa diretamente até as águas das redondezas, devem acontecer muitas mutações, o surgimento de muitos novos seres a partir daqueles que ali vão aproveitar o calor que emana do interior.

                            Da mesma forma em volta dos vulcões.

                            O calor (em relação à friagem em volta, nos países muito frios) e a fertilidade advinda dos materiais novos acrescentados ao solo atraem gente e bichos, e o preço desse conforto são as mutações, as irradiações, que a Natureza quer.

                            Posso pensar que as pesquisas irão deparar com uma variedade de vida muito maior onde estiverem os vulcões ativos.

                            Vitória, terça-feira, 20 de agosto de 2002.

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