quinta-feira, 22 de dezembro de 2016


Escola Superior da Paz

 

                            Lá por 1987 escrevi um artigo sobre a fusão do Exército, da Marinha e da Aeronáutica num Ministério da Defesa, o que foi feito depois, como já contei várias vezes.             

                            Restou da época e do pensamento anterior a Escola Superior de Guerra, ESG, uma coisa defensiva e DURA, ou seja, resultante do medo e da covardia, PORQUE só quem tem medo permanente carrega revólveres. Os bravateadores, os valentões, dos covardões é que carregam armamentos expostos. Quem tem natural tranqüilidade “fica na sua”, como diz o povo, ou seja, inerte, já que não tem medo de nada. Aqueles desfiles soviéticos indicavam na realidade as fraquezas do regime.  Desfile militar é sempre ruim, tanto para o povo, que o toma como intimidação, quanto para o mundo exterior, que fica conhecendo as potências internas e se prepara para retaliação.

                            A constante recorrência americana aos filmes de faroeste mostra como os poucos que posavam de valentes eram receados pelos demais, e mostra também como houve uma correria geral às armas, denotando a covardia unânime da sociedade por lá. Os arrogantes não são as pessoas verdadeiramente em posse de si, na verdade eles vivem assombrados com tudo, evidenciando que lhes vai à alma um pavor constante.

                            Essa Escola Superior da Guerra mostra a fraqueza brasileira, o alarme constante dos militares. Ora, paz e guerra são opostos/complementares, e quem estuda paz por via de conseqüência estuda a guerra. A diferença de anúncios é que é indicativa. Quem anuncia a guerra anuncia o receio que tem, o que é munição psicológica dos adversários (que existem sempre), inimigos passivos, e até dos inimigos (que só eventualmente mostram-se como tais), adversários ativos.

                            Pelo contrário, uma Escola Superior da Paz estuda não somente como manter a paz (condições psicológicas gerais: psicanalíticas ou de figuras, psico-sintéticas ou de objetivos, econômicas ou de produções, sociológicas ou de organizações, e geo-históricas ou de espaçotempos), as condições disso, como também, conexamente, de manter a guerra. Pois a guerra é manutenção dinâmica, é sustentação operacional, e é vencida por quem tem formestrutura mais constante, durante mais tempoespaço, isto é, mais espalhada no espaço, por mais tempo. Então, perguntaríamos pela ESTÁTICA DA GUERRA e pela DINÂMICA DA GUERRA, no geral a MECÂNICA DA GUERRA, o que se desdobraria no modelo em muitas afirmações, que não vou investigar agoraqui, já o fiz noutra parte.

                            Só os idiotas pensam na guerra, os espertos de verdade pensam na paz, até porque isso desarma os adversários, antes que eles virem inimigos, ou torna os inimigos desprevenidos da potência interna.

                            A paz é um investimento muito melhor, em tudo.

                            Que não tenham visto isso é que é preocupante, pois revela uma fragilidade de base, uma estranha propensão para gabolice, para auto-afirmações sem embasamento no poder (força focada), que é sempre das elites, ou até na força (poder caótico, mas mobilizável), que são as reservas populares (nas quais, em geral, não se deve mexer).

                            Vitória, sábado, 17 de agosto de 2002.

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