Os Motivos do Desenvolvimento ou Dos Ricos 1,
e 1 dos Miseráveis
No
entusiasmante (pois abre muitas veredas) livro de H-J Chang, 23
Coisas que não nos Contaram sobre o Capitalismo (Os maiores mitos do
mundo em que vivemos – Como reconstruir a economia mundial), São Paulo,
Cultrix, 2013 (sobre original de 2010), ele diz nas páginas (vá à livraria
adquirir este livro, e os outros também, o autor é bom – porém não-perfeito,
não vê tudo, mas permite que a gente pense caminhos novos):
83
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“É claro
que tudo o que acabo de expor não tem a intenção de negar que o egoísmo é uma
das mais importantes motivações humanas”.
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197
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“Nessa
visão de mundo, os pobres eram pobres porque não tinham o caráter necessário
para praticar essa abstinência” [Segundo David Ricardo e os de sua época].
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198
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a)
“A mais importante
diferença de comportamento interclasse era considerada como sendo o fato que
os capitalistas investiam (praticamente) toda a sua renda ao passo que as
outras classes – a classe trabalhadora e a classe dos proprietários de terra
– a consumiam”
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b)
“No entanto, com
relação aos trabalhadores havia um consenso. Eles gastavam toda a sua renda”.
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202
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“(...) o
fato é que o crescimento econômico na realidade desacelerou desde o início da
reforma neoliberal pró-ricos [de Reagan, 20 de janeiro de 1981 – 20 de
janeiro de 1989] na década de 1980”.
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205
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“O simples
fato de tornarmos os ricos mais ricos não faz com que todo mundo fique mais
rico”.
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Durante
décadas fiquei pensando em por que o 1 dos ricos seria diferente do 1 dos
pobres (dos miseráveis).
Chang deu a
solução sem atinar.
A CLASSE DO TER NO MODELO PIRÂMIDE
E
|
D
|
C
|
B
|
A
|
Miseráveis.
|
Pobres.
|
Médios.
|
Médio-altos.
|
Ricos.
|
Vejamos este
exemplo, tomando a fração dos ricos como possuindo 100 bilhões; para os
miseráveis outro tanto. Vou fazer muitas suposições, você que retrate a
realidade e a enquadre. Tudo será pensado para dar zeros, de modo a facilitar
as divisões. Suponha que ricos constituam percentual de 1 % de todos, os
humildes ganhando individualmente 1/100 das rendas dos abastados. Num país de
100 milhões de indivíduos, os abonados seriam 1,0 milhão e cada qual teria
renda média anual de 100 mil, enquanto os da outra ponta, os pobretões com
1/100 da renda dos ricos, ou 1.000/ano, seriam a quase totalidade de 100
milhões, menos o um milhão de cima, na realidade 99 milhões.
EM RESUMO (para população de 100 milhões, ricos/miseráveis 99/1)
TER
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RENDA TOTAL
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% POP
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SERIAM
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POR CABEÇA
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Ricos.
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100
bilhões.
|
1
|
1 milhão.
|
100 mil.
|
Miseráveis.
|
100
bilhões.
|
~ 100
|
~ 100 milhões.
|
Mil.
|
Em que os
100 bilhões dos miseráveis teriam maior poder de arrastamento socioeconômico do
que os 100 bilhões dos ricos?
Isso me
embaraçou durante décadas.
COMENTÁRIOS DAS CITAÇÕES
197
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O fato de
os pobres não serem capazes de abstinência vem de que percentual grande de
suas rendas é destinada a aluguel, a compra da moradia (para fugir do aluguel
– isso é investimento), material escolar, passagens para as crianças e
outros, roupas, alimentação, saúde (pode haver assistência médica, mas os remédios
são em parte comprados).
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198a
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Os ricos
investem porque miram o lucro, mas não investem sempre, nem de qualquer modo,
fazem estudos, porque não querem perder o que conseguiram (com trapaças,
sonegação, corrupção, redução no peso, diminuição da qualidade, redução dos
salários, etc. - a saga é longa). Investem com cuidado gigantesco, evitando
todo perigo, porisso não investem sempre nem instantaneamente. Meditam muito,
além de pegar incentivos fiscais de todo gênero, terras gratuitas, saneamento
preventivo, posteamento de energia, implantação dos parques de derivação
pelas companhias de energia, instalação dos parques industriais, subsídios e
segue.
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198b
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De fato,
gastam mesmo, porque o ganho mal dá para sustentar a família e as pressões
são enormes. É aqui que repousa a solução: se houver
da parte dos pobres EMOÇÃO DE GASTAR quando, tendo mais renda, podem aspirar
satisfazer pelo menos parte dos sonhos, eles não segurarão os recursos, irão
aplicá-los imediatamente, causando energização da sócioeconomia. Esses gastos,
contínuos e acelerados entre receber e zerar (como quando a instalação do
Bolsa Família), provocam entusiasmo DE APOSSAMENTO entre os ricos, que então
despejam seus ganhos acumulados, visando o lucro. A ambição dos ricos (entra
83) só pode frutificar QUANDO A BASE É AMPLIADA: quanto mais numerosos são os
pobres e miseráveis, e maior a renda extra na ECONOMIA DE FUNDO POPULAR, mais
o dinheiro circulará e mais os ricos serão atraídos, criando espiral benigna,
círculo virtuoso. Então, está claro, É IMPORTANTÍSSIMO os pobres gastarem a
rodo, ao contrário do que diziam e recomendavam.
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202
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Desacelerou
justamente porque foi retirado o ENTUSIASMO GASTADOR e a base popular
encolheu.
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205
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Não só não
faz todo mundo ficar rico, como a nação com ampliação da concentração de
renda – além de se colocar em situação de perigo de revolta popular – acaba
por entrar em colapso de crescimento.
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A emoção
popular de gastar e o egoísmo de açambarcamento pelos ricos estão fortemente
ligados. O povo precisa sentir que está sobrando dinheiro, em tal situação
geral chegando àquele prazer de gastar sempre e a todo custo (de fato, vai
aplicando mais em bens duráveis e semiduráveis, ele não é bobo).
O motivo
principal do desenvolvimento é essa FÚRIA GASTADORA e confiança no futuro, bem
como outros fatores que negam a retração dos ricos (quando há deflação os ricos
saem da economia; quando há “excesso” de dinheiro, quando eles tiram muito dos
pobres, aplicam no capital migrante ou colocam nos infernos fiscais).
A realidade
é contrária àquilo que David Ricardo dizia.
A DISTÂNCIA ENTRE RICOS E POBRES SEGUNDO AS DÉCADAS (página 209 de Chang)
DÉCADAS
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“(...)
razão entre a remuneração do CEO e a do trabalhador típico nos Estados Unidos
(...)”.
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1960 e
1970
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30/1 a
40/1
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1980
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Interface de Reagan, 1981-1989
(os EUA começaram a afundar aqui).
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1990
|
100/1
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2000
|
300/1 a
400/1 (em 40 anos foi multiplicada por 10).
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É evidente
que desde meados da década dos 1970 os computadores (bem como vários outros
produtos) e a Internet desde 1989 em diante, fizeram os mercados americanos
agitar-se fortemente.
Fica patente
que a concentração crescente da renda (que previ que aconteceria com a perda do
medo da URSS em 1991) diminui o entusiasmo e a sócioeconomia perde velocidade,
como aconteceu nos EUA e em toda parte - e tudo degringola. O chamado “milagre
brasileiro” veio de os militares terem estimulado a população maciçamente com
seus programas grandiosos, havendo então um surto de nacionalidade. Será assim
em toda parte. Na medida em que, no Japão, a população em vez de gastar começou
a guardar, lá também o crescimento declinou a partir de 1987 e até agora.
Enfim, o
modo mais fácil de crescer é despertar o entusiasmo do povo gastador, as elites
correndo atrás para tomar e reinvestir, criando todo tipo de empreendimento,
gerando mais arrebatamento, levando a espiral para cima.
Nações
deprimidas são nações em encolhimento socioeconômico.
Tão simples
quanto a alegria do povo (grandes projetos, esportes, grandes sonhos,
aspirações ilimitadas, investimentos em larga escala, aumento dos salários,
vibração, construções por toda parte, tudo aquilo que os militares considerados
estúpidos fizeram).
Serra,
sexta-feira, 25 de setembro de 2015.
GAVA.
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