terça-feira, 22 de novembro de 2016


Os Motivos do Desenvolvimento ou Dos Ricos 1, e 1 dos Miseráveis

 

No entusiasmante (pois abre muitas veredas) livro de H-J Chang, 23 Coisas que não nos Contaram sobre o Capitalismo (Os maiores mitos do mundo em que vivemos – Como reconstruir a economia mundial), São Paulo, Cultrix, 2013 (sobre original de 2010), ele diz nas páginas (vá à livraria adquirir este livro, e os outros também, o autor é bom – porém não-perfeito, não vê tudo, mas permite que a gente pense caminhos novos):

83
“É claro que tudo o que acabo de expor não tem a intenção de negar que o egoísmo é uma das mais importantes motivações humanas”.
197
“Nessa visão de mundo, os pobres eram pobres porque não tinham o caráter necessário para praticar essa abstinência” [Segundo David Ricardo e os de sua época].
198
a)               “A mais importante diferença de comportamento interclasse era considerada como sendo o fato que os capitalistas investiam (praticamente) toda a sua renda ao passo que as outras classes – a classe trabalhadora e a classe dos proprietários de terra – a consumiam”
b)               “No entanto, com relação aos trabalhadores havia um consenso. Eles gastavam toda a sua renda”.
202
“(...) o fato é que o crescimento econômico na realidade desacelerou desde o início da reforma neoliberal pró-ricos [de Reagan, 20 de janeiro de 1981 – 20 de janeiro de 1989] na década de 1980”.
205
“O simples fato de tornarmos os ricos mais ricos não faz com que todo mundo fique mais rico”.

Durante décadas fiquei pensando em por que o 1 dos ricos seria diferente do 1 dos pobres (dos miseráveis).

Chang deu a solução sem atinar.

A CLASSE DO TER NO MODELO PIRÂMIDE

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E
D
C
B
A
Miseráveis.
Pobres.
Médios.
Médio-altos.
Ricos.

Vejamos este exemplo, tomando a fração dos ricos como possuindo 100 bilhões; para os miseráveis outro tanto. Vou fazer muitas suposições, você que retrate a realidade e a enquadre. Tudo será pensado para dar zeros, de modo a facilitar as divisões. Suponha que ricos constituam percentual de 1 % de todos, os humildes ganhando individualmente 1/100 das rendas dos abastados. Num país de 100 milhões de indivíduos, os abonados seriam 1,0 milhão e cada qual teria renda média anual de 100 mil, enquanto os da outra ponta, os pobretões com 1/100 da renda dos ricos, ou 1.000/ano, seriam a quase totalidade de 100 milhões, menos o um milhão de cima, na realidade 99 milhões.

EM RESUMO (para população de 100 milhões, ricos/miseráveis 99/1)

TER
RENDA TOTAL
% POP
SERIAM
POR CABEÇA
Ricos.
100 bilhões.
1
1 milhão.
100 mil.
Miseráveis.
100 bilhões.
~ 100
~ 100 milhões.
Mil.

Em que os 100 bilhões dos miseráveis teriam maior poder de arrastamento socioeconômico do que os 100 bilhões dos ricos?

Isso me embaraçou durante décadas.

COMENTÁRIOS DAS CITAÇÕES

197
O fato de os pobres não serem capazes de abstinência vem de que percentual grande de suas rendas é destinada a aluguel, a compra da moradia (para fugir do aluguel – isso é investimento), material escolar, passagens para as crianças e outros, roupas, alimentação, saúde (pode haver assistência médica, mas os remédios são em parte comprados).
198a
Os ricos investem porque miram o lucro, mas não investem sempre, nem de qualquer modo, fazem estudos, porque não querem perder o que conseguiram (com trapaças, sonegação, corrupção, redução no peso, diminuição da qualidade, redução dos salários, etc. - a saga é longa). Investem com cuidado gigantesco, evitando todo perigo, porisso não investem sempre nem instantaneamente. Meditam muito, além de pegar incentivos fiscais de todo gênero, terras gratuitas, saneamento preventivo, posteamento de energia, implantação dos parques de derivação pelas companhias de energia, instalação dos parques industriais, subsídios e segue.
198b
De fato, gastam mesmo, porque o ganho mal dá para sustentar a família e as pressões são enormes. É aqui que repousa a solução: se houver da parte dos pobres EMOÇÃO DE GASTAR quando, tendo mais renda, podem aspirar satisfazer pelo menos parte dos sonhos, eles não segurarão os recursos, irão aplicá-los imediatamente, causando energização da sócioeconomia. Esses gastos, contínuos e acelerados entre receber e zerar (como quando a instalação do Bolsa Família), provocam entusiasmo DE APOSSAMENTO entre os ricos, que então despejam seus ganhos acumulados, visando o lucro. A ambição dos ricos (entra 83) só pode frutificar QUANDO A BASE É AMPLIADA: quanto mais numerosos são os pobres e miseráveis, e maior a renda extra na ECONOMIA DE FUNDO POPULAR, mais o dinheiro circulará e mais os ricos serão atraídos, criando espiral benigna, círculo virtuoso. Então, está claro, É IMPORTANTÍSSIMO os pobres gastarem a rodo, ao contrário do que diziam e recomendavam.
202
Desacelerou justamente porque foi retirado o ENTUSIASMO GASTADOR e a base popular encolheu.
205
Não só não faz todo mundo ficar rico, como a nação com ampliação da concentração de renda – além de se colocar em situação de perigo de revolta popular – acaba por entrar em colapso de crescimento.

A emoção popular de gastar e o egoísmo de açambarcamento pelos ricos estão fortemente ligados. O povo precisa sentir que está sobrando dinheiro, em tal situação geral chegando àquele prazer de gastar sempre e a todo custo (de fato, vai aplicando mais em bens duráveis e semiduráveis, ele não é bobo).

O motivo principal do desenvolvimento é essa FÚRIA GASTADORA e confiança no futuro, bem como outros fatores que negam a retração dos ricos (quando há deflação os ricos saem da economia; quando há “excesso” de dinheiro, quando eles tiram muito dos pobres, aplicam no capital migrante ou colocam nos infernos fiscais).

A realidade é contrária àquilo que David Ricardo dizia.

A DISTÂNCIA ENTRE RICOS E POBRES SEGUNDO AS DÉCADAS (página 209 de Chang)

DÉCADAS
“(...) razão entre a remuneração do CEO e a do trabalhador típico nos Estados Unidos (...)”.
1960 e 1970
30/1 a 40/1
1980
Interface de Reagan, 1981-1989 (os EUA começaram a afundar aqui).
1990
100/1
2000
300/1 a 400/1 (em 40 anos foi multiplicada por 10).

É evidente que desde meados da década dos 1970 os computadores (bem como vários outros produtos) e a Internet desde 1989 em diante, fizeram os mercados americanos agitar-se fortemente.

Fica patente que a concentração crescente da renda (que previ que aconteceria com a perda do medo da URSS em 1991) diminui o entusiasmo e a sócioeconomia perde velocidade, como aconteceu nos EUA e em toda parte - e tudo degringola. O chamado “milagre brasileiro” veio de os militares terem estimulado a população maciçamente com seus programas grandiosos, havendo então um surto de nacionalidade. Será assim em toda parte. Na medida em que, no Japão, a população em vez de gastar começou a guardar, lá também o crescimento declinou a partir de 1987 e até agora.

Enfim, o modo mais fácil de crescer é despertar o entusiasmo do povo gastador, as elites correndo atrás para tomar e reinvestir, criando todo tipo de empreendimento, gerando mais arrebatamento, levando a espiral para cima.

Nações deprimidas são nações em encolhimento socioeconômico.

Tão simples quanto a alegria do povo (grandes projetos, esportes, grandes sonhos, aspirações ilimitadas, investimentos em larga escala, aumento dos salários, vibração, construções por toda parte, tudo aquilo que os militares considerados estúpidos fizeram).

Serra, sexta-feira, 25 de setembro de 2015.

GAVA.

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