sábado, 8 de outubro de 2016


Trancadura Mágica

 

Ali na subidinha da Dom Afonso com a Oito de Setembro tem aquela casa mágica que vende vários objetos. Não é coisa de umbanda, é apenas mágico, e é sofisticado. Procure o senhor Mário.

Esse ladrão se deu muito mal.

Foi tentar arrombar a trancadura (não é fechadura, tá com esse nome não é à toa) no portão da casa e se arrebentou mesmo. Em primeiro lugar, a pessoa acredita que o muro é alto, mais de 10 metros, quando na realidade até uma criança (se pudesse ver a verdade) passaria facilmente por cima.

Aí o bandido foi para o portão, que tem a tranca mágica.

Nesse dia eu (que moro na casa defronte) fiquei olhando, sou aposentado, não tenho nada para fazer, também tenho o “muro 10”, de dentro dá pra ver tudo, fiquei de buzuca. Ele ficou ali mais de duas horas tentando, pensou que tinha chegado há minutos. Eu ria pra caramba, gargalhava, ele olhava e não via ninguém, porque para ele eu estava oculto atrás do meu muro. Cara, eu quase rolava.

Ele ficou ali aquelas duas horas, como se tivesse acabado de chegar, era de manhãzinha àquela hora de ladrão entre as três e as cinco, estou aposentado e tenho insônia, fiquei rindo. Ele tentava abrir a trancadura e não tinha jeito. Parecia fácil, não tinha cadeado, não era fechadura complicada, parecia que qualquer um poderia abrir, ledo engano. Foi dando seis horas, quando viu clarear ele olhou no relógio, ficou assombrado e assustado, picou a mula. Não se deu por vencido, foi comprar uma chavedura lá na mesma loja.

Abrir, abria, mas logo a trancadura fechava, ficava naquele jogo de empurra, eu me torcia, tava com dor na barriga, abria, fechava, abria, fechava, já estava ficando sem fôlego, estava guinchando, a mulher correu pensando que eu tava passando mal, expliquei, “olhe lá”, ela sentou e ficou rindo mais que eu. Precisava se segurar na cadeira, os dedos ficaram brancos de tanta força que ela fazia para se aguentar.

E abre e fecha e abre e fecha, os poderes mágicos lutavam um contra o outro. Abrir, abria, o ladrão se preparava para entrar, fechava, até que ele teve a brilhante ideia de colocar o pé para escorar e aí foi pior, o pé imprensou, ficou entalado, não podia nem entrar nem tirar, ficou ali, abria e fechava no pé que estava sendo esmagado, pensei em chamar a polícia mágica, mas o dono já tinha acordado com os gritos do Zé Mané, a vizinhança toda, o ladrão ficou lá com o baticum do abre-fecha.

Nunca ri tanto na minha vida. Foi de arrasar, passei uma semana feliz, dormindo bem à bessa.

Serra, terça-feira, 30 de outubro de 2012.

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